Independência propõe criar nova empresa

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Frigoríficos: Plano de recuperação prevê que maior parte da dívida de R$ 3 bilhões ficaria na companhia 'antiga'


  
O plano de recuperação que o frigorífico Independência apresenta hoje a seus credores e à Justiça prevê a transformação da empresa em uma holding e a criação de uma nova companhia operacional. A dívida de R$ 3 bilhões do frigorífico de carne bovina, que já esteve entre os cinco maiores do país e pediu recuperação judicial, seria dividida entre a holding, a Independência S.A., e esta nova companhia operacional, que está sendo chamada de Nova Independência S.A., ou Nisa. Os ativos do "antigo" Independência seriam todos transferidos para a nova empresa.

 

De acordo com o diretor-financeiro do Independência, Tobias Bremer, dois terços do total dos débitos - dívidas financeiras de longo prazo quirografárias - ficariam na empresa antiga e um terço na Nova Independência. "O plano é manter na nova empresa a dívida performada, dentro do padrão de mercado", explicou Gabriel Andrade, da Arsenal Investimentos, assessoria financeira contratada pelo frigorífico para a reestruturação. Isso significa dívidas com prazo de três a oito anos e taxas de juros anuais entre 4% e 8%.

 

Além disso, o plano prevê um pedido de empréstimo de R$ 330 milhões para que o Independência pague as dívidas de R$ 270 milhões com pecuaristas e fornecedores com prioridade. O restante do financiamento seria usado como capital de giro para que a empresa retome gradualmente o abate de bovinos em unidades paralisadas. Essa dívida ficaria com a Nova Independência.

 

"A primeira preocupação é diminuir o máximo possível o impacto [da paralisação das unidades] nas localidades onde estão instaladas", disse Andrade, justificando o pedido de financiamento. "Para retomar a produção em escala normal é imprescindível regularizar essa parcela da dívida", acrescentou o diretor-financeiro.

 

Segundo Bremer, esse modelo de reestruturação, em que uma dívida perpétua é criada, foi sugestão dos maiores bancos credores - JP Morgan, Citi, Santander, Votorantim, Bradesco, Itaú e Lehman Brothers. "A estrutura atende à sugestão dos bancos e à realidade operacional da companhia", disse.

 

As sete instituições são credoras de cerca de R$ 1,1 bilhão da dívida do Independência, excluídas operações de ACCs, que somam US$ 200 milhões. Procurado, o representante do comitê informal dos bancos, liderado pelo Citi, não se pronunciou. "O Citi não se manifesta sobre assuntos que estão na esfera judicial", afirmou, via assessoria de imprensa.

 

Segundo Bremer, a sugestão dos bancos veio após uma primeira proposta de reestruturação do Independência, que previa troca de metade da dívida por participação na empresa, além de descontos nos débitos. Por essa proposta inicial, rechaçada pelos credores, bancos e investidores se tornariam acionistas majoritários do Independência. Aos investidores que detêm bônus emitidos pela companhia, o frigorífico deve US$ 525 milhões.

 

Para quitar a dívida perpétua, o Independência conta com o que chama de "eventos de liquidez". Bremer explica: lucros operacionais da nova empresa ou venda de participação acioniária da companhia seriam destinados a pagar os débitos da holding. "A Nisa é uma empresa saudável, cuja estrutura de capital permite enxergar lucros operacionais ao longo do tempo (...) Se o mercado de carne estiver razoável, a Nisa tem capacidade de gerar dividendos", disse Andrade.

 

Questionado sobre prazos e garantias, Bremer afirmou que os advogados estavam trabalhando no "ajuste fino" do plano que será entregue hoje. Apesar de mencionar a possibilidade de venda de participação acionária da Nisa, o executivo foi vago ao falar sobre eventual negociação de ativos da empresa. Depois que o plano do Independência for entregue hoje, os credores terão 30 dias para se manifestar até a assembleia para tratar do tema. A expectativa de Bremer é positiva, mas ele previu "aperfeiçoamentos ao longo do caminho".

 

Hoje, só duas unidades do Independência - Janaúba (MG) e Rolim de Moura (RO) - estão abatendo parcialmente (mil bois/dia no total), e assim deve ser até o fim do ano. Se o plano de recuperação for aceito, a expectativa é colocar outras quatro para operar no primeiro trimestre de 2010 (Nova Andradina e Anastácio, em Mato Grosso do Sul, e Pontes e Lacerda e Juína, em Mato Grosso). Senador Canedo (GO), Campo Grande (MS) e Confresa (MT) voltariam a operar nos meses seguintes.

 

Quando pediu recuperação judicial em fevereiro, o Independência, no qual o BNDES tem participação de 22%, tinha 11.800 funcionários. Hoje são 2.600. Nesse periodo, o grupo devolveu unidades que arrendava em Colíder (MT), Nova Xavantina (MT), Itupeva (SP) e Senador Canedo (curtume). "A estimativa é que demore 18 meses para a empresa voltar ao patamar em que estava", afirmou Bremer. Controlado pela família Russo, o Independência atribui as perdas à forte valorização do dólar no último trimestre de 2008 e à queda de exportações e preços da carne.

 

Se tudo sair como o planejado pela empresa, em 2012 o abate estará em 6,5 mil cabeças por dia, o número de funcionários será de 8 mil e o faturamento, de R$ 3 bilhões anuais. Em 2009, a receita deverá alcançar R$ 800 milhões, ante R$ 2,2 bilhões em 2008.
 


Veículo: Valor Econômico


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