O Brasil já iniciou as negociações para aumentar em 9% o volume de carne bovina dentro da Cota Hilton, determinada pela União Europeia (UE) para cortes de maior valor agregado. O adicional de 900 toneladas elevaria o volume ofertado aos frigoríficos brasileiros para 10,9 mil toneladas no ano-cota 2010/11, que vai de 1º de julho a 31 de junho do ano seguinte. O pedido para ampliar a fatia brasileira se baseia na entrada da Croácia no bloco europeu e deve seguir os mesmos critérios adotados quando Bulgária e Romênia foram integrados e deram ao Brasil uma cota adicional de Hilton de 5 mil toneladas.
Apesar de ser um volume relativamente pequeno, o resultado tarifário para os frigoríficos pode ser muito grande. A carne brasileira exportada dentro da cota paga uma tarifa de 20% sobre o valor. Para o produto fora da cota, a tarifa cobrada dos frigoríficos é menor - de 12,8% - mas o exportador paga um adicional de 3.041 euros por tonelada. Por exemplo, uma tonelada exportada dentro da cota a US$ 15 mil recolhe imposto de US$ 3 mil. Na operação fora da cota, a tonelada paga US$ 1.920 de imposto mais US$ 4.377 (3.041 euros). "O processo de negociação está mais acelerado porque a Croácia tem pressa em entrar para o bloco e precisa acertar essa situação", afirma Otávio Cançado, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Carnes (Abiec).
Apesar de os exportadores buscarem elevar a cota para o próximo ano, a possibilidade de os frigoríficos conseguirem atender o volume de 10 mil toneladas já disponíveis no ano-cota 2009-2010 será muito pequena. A expectativa é de que sejam atendidas, no máximo, 60% desse volume, ou seja, 6 mil toneladas. O motivo é a pequena disponibilidade de fazendas habilitadas a exportar para a Europa, o que limita a oferta de animais. No ano-cota 2008-2009, que terminou em junho deste ano, foi cumprido apenas 25% de uma cota, que até então era de 5 mil toneladas.
Para tentar cumprir a maior parte possível, a Abiec já solicitou à UE que permita que a cota seja atendida com carne congelada e não apenas com o produto resfriado, como acontece atualmente. Essa medida daria a chance de os frigoríficos congelarem a carne, estocarem e, quando reunirem volume suficiente para encher um contêiner, fazer a exportação. "O único problema é que no mercado europeu a carne congelada tem um valor menor do que a resfriada, apesar de ser exatamente o mesmo produto. Com o problema das fazendas, no entanto, ela passou a ser viável", afirma Cançado.
Apesar de o aumento da cota representar um volume maior no médio prazo, o mercado avalia que o mais interessante seria o Brasil brigar por uma flexibilização nas regras de rastreabilidade impostas pela Europa. "Hoje, para o Brasil, aumentar a cota não faz a menor diferença. Não conseguimos atender o volume de 5 mil toneladas do ano passado e não vamos atender a cota deste ano. Aumentar o volume não terá influência sobre o mercado", afirma o diretor de uma trading que exporta carne da América do Sul para o bloco europeu. O presidente de outra importante trading ressalta que, além de o número de fazendas habilitadas a exportar para a UE ser pequeno, a oferta de "animais Hilton" é ainda menor. "
Veículo: Jornal do Commercio - RJ