Associação de pecuaristas se opõe à venda da Pilgrim's

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Concentração: Grupo dos EUA volta a fazer lobby contra a brasileira JBS

 

Produtor integrado da Pilgrim's, que acaba de ser comprada pela JBS, mostra ave de três semanas em fazenda de criação nas proximidades de Pittsburg
Uma associação de fazendeiros americanos que recentemente conseguiu frear a expansão do grupo brasileiro JBS nos Estados Unidos ameaça voltar à carga para impedir que a entrada da JBS no mercado de carne de frango provoque perdas para os produtores de gado bovino.

 

Conhecida pela sigla R-Calf USA, a associação teme que a aquisição da Pilgrim's Pride fortaleça ainda mais a posição do grupo brasileiro nas negociações com os pecuaristas, permitindo que ele produza mais carne de frango e se afaste do mercado de carne bovina quando achar os preços do gado muito altos.

 

"A operação aumentará muito o poder de mercado da JBS e eles terão condições de exercê-lo jogando uma proteína contra a outra", disse o presidente da associação, Bill Bullard. O grupo representa milhares de fazendeiros que nos últimos anos se afastaram das associações tradicionais do setor.

 

Bullard disse que a organização vai se opor "agressivamente" à aquisição da Pilgrim's e contratou especialistas para estudar o impacto da transação, numa tentativa de encontrar evidências que possam convencer as autoridades americanas a examinar a operação com mais rigor.

 

Uma campanha deflagrada pela R-Calf USA contribuiu de maneira significativa no ano passado para convencer a Divisão Antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos a vetar a aquisição da National Beef pela JBS, que se viu forçada a desistir do negócio em fevereiro.

 

A associação angariou apoio político para a causa dos pecuaristas, mobilizando senadores e autoridades nos Estados em que a JBS atua para ampliar a pressão para que a Divisão Antitruste impusesse limites ao avanço da JBS no mercado de carne bovina, que é bastante concentrado nos EUA.

 

A aquisição da Pilgrim's Pride é um caso bem diferente. A empresa está em concordata, assolada por dificuldades financeiras que se agravaram com a crise internacional. Como a JBS atualmente não processa carne de frango, a transação não afeta em nada a concentração do mercado.

 

Mas a empresa pode ter problemas se a nova tese dos pecuaristas da R-Calf USA ganhar acolhida. O grupo brasileiro tem atualmente um quarto do mercado de carne bovina nos EUA e será dono de quase um quinto do mercado de frango se a aquisição da Pilgrim's Pride for aprovada.

 

As autoridades antitruste americanas em geral assistiram passivamente ao processo de concentração da indústria de carne nos últimos anos, mas o veto à aquisição da National Beef pela JBS indicou que eles estão preocupados com os efeitos desse processo para fazendeiros e consumidores.

 

Não existem precedentes para avaliar o que pode acontecer com o grupo brasileiro agora. A última vez que o governo analisou um caso semelhante foi em 2001, quando a Tyson, que já era a maior produtora de carne de frango, comprou uma empresa chamada IBP, na época a maior processadora de carne bovina do país. O negócio foi aprovado.

 

Para Steve Kay, editor de um boletim especializado que tem acompanhado de perto a expansão da JBS no mercado americano, a ideia de que o grupo poderá usar a aquisição da Pilgrim's Pride para fortalecer seu poder no mercado de carne bovina não tem muito sentido.

 

"Não há evidência de que empresas como a Tyson, que já atuam em diferentes mercados, tirem proveito da situação dessa maneira", afirmou Kay. "Essas empresas procuram explorar ao máximo a lucratividade de cada um dos seus negócios e eles são muito diferentes."

 

Pecuaristas independentes como os que fazem parte da R-Calf USA fornecem boa parte dos bois que mais tarde são processados por grandes indústrias como a JBS e a Tyson Foods. No mercado de carne de frango, o controle desses grupos é muito maior e os produtores independentes praticamente desapareceram nos últimos anos
 


Veículo: Valor Econômico


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