Com apenas dois barcos hoje disponíveis para fiscalizar os 573 quilômetros do litoral cearense, o Ibama tem encontrado dificuldades para combater a pesca ilegal. O POVO conversou com o chefe de fiscalização do órgão no Ceará, Rolfran Cacho Ribeiro.
O POVO - Quantos barcos o Ibama tem hoje para fiscalizar o litoral?
Rolfran Cacho - Temos dois barcos emprestados pelas prefeituras de Beberibe e de Icapuí e um barco que é do Ibama, mas que está parado no porto. Estamos com um problema na tripulação. Numa viagem (ao mar), precisa de comandante, motorista e maquinista. No quadro funcional (do Ibama) não tem essas categorias. Mas esse problema está sendo solucionado. Estamos recebendo recursos para contratar gente, pagar a diária deles e alugar umas lanchas rápidas.
OP - Quando o Ibama flagra um barco pescando de forma ilegal, para onde ele é levado?
Rolfran - A gente deixa o proprietário como fiel depositário porque não tem um porto onde a gente possa guardar. Isso fragiliza a fiscalização.
OP - O Ibama só fiscaliza no mar ou tem trabalho em terra também?
Rolfran - Tem sim, a gente fiscaliza as unidades produtivas, bares, restaurantes, os barcos chegando ao porto. Só que é difícil. Quando tem um carro do Ibama na praia, todo mundo fica sabendo. O pessoal avisa. De mil (ilegais), a gente pega um. Quem faz a pesca predatória numa praia dessa tem um monte de protetores.
OP - Os pescadores sabem quando o barco do Ibama vai ao mar?
Rolfran - Sabe também porque o barco precisa se preparar. Tem de colocar o combustível, o rancho (dos tripulantes). Aí tem dois, três caras de moto só filmando a gente até descobrir pra onde o barco vai. Depois, é só passar o rádio avisando o pessoal que está no mar. O grupo que faz a pesca predatória age de forma organizada.
OP - Os pescadores falam que o Ibama sabe quem pesca ilegalmente. É verdade?
Rolfran - A gente tem o levantamento. Mas precisa fazer o flagrante. Tem de pegar no mar. E para fazer o flagrante, tem de ter um (barco) com velocidade um terço maior do que os ilegais. Os deles são mais velozes do que os nossos. Antes que a gente chegue até eles, o pessoal joga o compressor com tudo no mar para se livrar do flagrante. Já são orientados pra isso. Não e fácil. O pessoal burla a fiscalização.
Veículo: O Povo - CE