Pressionados pela entrada da primeira safra de gado confinado, que ocorre entre agosto e outubro, os preços da arroba do boi gordo com entrega em outubro inverteram a alta e acumulam atualmente uma queda de 14,3% na comparação com o auge das cotações, registrado em 11 de junho. De acordo com dados da CM Capital Markets, naquela data, a arroba do boi atingiu o auge deste ano, ficando cotada a R$ 102,80.
A tendência de preços altos impulsionou os negócios do boi no mercado futuro, mas há dois meses os indicadores da Bolsa apresentam recuo. A queda no volume dos contratos futuros e de opções do boi gordo foi de 2,3% em julho, na comparação com o mês anterior. No relatório de agosto, o recuo foi ainda maior em comparação ao mês anterior: 16,4%. O volume dos contratos futuros e de opções atingiu em agosto 173,54 mil negócios. A receita também recuou 18,5% no período, atingindo US$ 3 bilhões.
"Com esse recuo da arroba, os investidores ou pessoas físicas que tinham contratos acabaram liquidando", explica Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Segundo disse, a criação de gado confinado está crescendo nos últimos anos, o que torna a oferta abundante no período de safra.
José Vicente Ferraz, diretor da AgraFnp, acredita que a redução nos negócios é pontual. "O mercado futuro atrai investidores quando existe um certo exagero nos preços", explica. Mesmo assim, ele destacou a solidez desse tipo de contrato na BM&F. "O mercado deverá se recuperar a médio e longo prazo", completa.
A operadora de commodities da CM Capital Markets, Flávia Quaino, também acredita que os negócios futuros com boi gordo estão aquecidos. "Se analisarmos, o volume negociado já maior que o do ano passado", observa. Disse que a fuga dos investidores é normal porque trata-se de um período de excesso de oferta. "Além disso, o mercado ficou inchado, pois muitas pessoas físicas e bancos passaram a investir com a arroba valendo R$ 120. Sem contar que com a alta muitos não conseguiram pagar o ajuste e saíram do mercado", revela. A operadora disse que com os preços em baixa, o produtor pode até reduzir o nível de confinameto. "Não compensa fazer hedge (proteção) nesse patamar", arremata.
No mercado físico, o movimento também foi de queda por causa da oferta abundante. No dia 19 de junho, a arroba do boi atingiu o pico de R$ 95 e atualmente é negociada a R$ 90, queda de 5,2%, segundo levantamento da Scot Consultoria. "A oferta de gado deverá diminuir no final do ano. Com isso, a expectativa é que os preços voltem a subir", prevê Tito Rosa. Para ele, os motivos de vão contribuir para esse movimento são o aumento no número de propriedades que voltara a exportar para a União Européia (UE), a reaproximação com o Chile e a chegada do fim do ano, quando tradicionalmente ser consome mais carne. A operadora da CM Capital Markets acrescenta que Goiás também voltou a vender à Rússia e acredita na retomada das negociações no mercado físico, onde os negócios estão fracos há três semanas.
Café
Na contramão do boi, os contratos de futuro e opções do café arábica fecharam agosto com aumento de 62% na comparação com julho. No total, foram negociados 101.397 mil contratos. A receita total atingiu US$ 1,6 bilhão com um incremento de 58,8% em relação ao mês anterior. "Em julho, historicamente o volume dos negócios é menor porque trata-se de um período de possíveis geadas. Isso faz o investidor ficar retraído", diz Sílvio Bianchi, analista da FCStone. Acrescentou ainda que embora o Brasil seja o maior produtor de café arábica do mundo, o maior volume dos negócios são realizados na Bolsa de Nova York. "Sem contar que o produtor brasileiro não tem a tradição de trabalhar com hedge. Mas, mesmo assim, o volume de contratos têm crescido".
Álvaro Camargo, gerente de commodities da CM Capital Markets, diz que neste ano o volume caiu por causa do atraso na colheita da safra, motivado pela quebra de produção dos cafezais. "Foi um ano de muitos problemas, inclusive com mão-de-obra". Para o próximo ano, a expectativa é que os números de negócios sejam melhores. Segundo Camargo, na mesma época do ano passado, os contratos com vencimento em setembro de 2008 tinham 10 mil negócios. Neste ano, a entrega em setembro de 2009 possui apenas 1,5 mil negócios.
Veículo: Gazeta Mercantil