As ações de empresas do setor de alimentos registraram fortes quedas ontem na BM&F Bovespa e, no final do pregão, algumas conseguiram recuperar resultados, embora a valorização dos papéis no fechamento não tenha sido expressivo.
Entre as maiores baixas, estiveram as ações da JBS-Friboi, Sadia e Perdigão. O frigorífico registrou baixa nos papéis de até 6,5% no meio da tarde de ontem, enquanto as ações das outras duas companhias chegaram a cair 5,5%, segundo analistas. No final das contas, a JBS fechou o dia ontem com as ações valendo R$ 5,45 (-0,91%); a Sadia teve o papel cotado a R$ 10,17 (+0,29%); e, a Perdigão, R$ 38,70 (-0,90%), de acordo com a corretora Planner.
No primeiro dia de operação na bolsa, em 28 de março do ano passado, o papel da JBS encerrou o pregão valendo R$ 8,00.
Embora as opiniões dos especialistas de mercado sejam um pouco variadas, há quem acredite que a crise nos Estados Unidos seja a causa do desempenho negativo de algumas companhias na bolsa. Peter Ho, analista especializado no setor de alimentos da corretora Planner, comenta que as ações do frigorífico JBS vêm registrando quedas. Desde o dia 28 de agosto, quando a ação da companhia esteve cotada a R$ 7,00, a empresa viu quedas consecutivas até o dia 9 de setembro, quando chegou a R$ 5,23. Houve recuperação entre os dias 9 e 12 de setembro, quando o papel alcançou os R$ 5,98, mas após esse dia as ações do frigorífico voltaram a registrar baixas na bolsa até o resultado de ontem. Segundo Ho, porque a empresa concentra suas operações nos Estados Unidos e o cenário atual da economia naquele país penaliza o frigorífico.
"Os EUA apresentam indícios de recessão, recentemente houve aumento da taxa de desemprego. Nesse contexto, há retração do consumo", avalia. E no mercado financeiro, há a sensação dessa perda de renda, ou seja, de que o consumidor vai se tornar mais conservador do que consumidor - o que causa impacto negativo direto nas margens das empresas, até mesmo no ramo de alimentos. "Mesmo sendo o alimento um item essencial, o consumidor mais conservador troca alguns produtos mais caros por outros mais baratos, ou então reduz a quantidade de compras. O consumidor tende a economizar em bens duráveis e também em alimentos", avalia o analista da Planner.
Conforme balanço do segundo trimestre de 2008 da JBS, o mais recente, o mercado norte-americano detém a maior fatia na participação das vendas da companhia, com 43% em carne bovina e 14% proveniente das vendas de carne suína. Logo atrás vem a participação do mercado consumidor brasileiro, com 20%, onde a empresa obtém receita com vendas de carne bovina.
As ações da Sadia e Perdigão acompanharam ontem o movimento de baixa também por conta do efeito de possível retração de consumo, esperado em nível global por conta da crise norte-americana, reforça Ho. Na segunda-feira passada, as ações das duas companhias registraram baixas de, em média, 5% na bolsa e os papéis da JBS caíram 10%.
A recuperação no final do dia de ontem ocorreu por conta de recomposição depois das quedas de segunda-feira, segundo analistas de mercado.
Denise Messer, analista da Brascan, também viu o movimento na bolsa como reflexo do "medo de arrefecimento da demanda mundial". "O mercado está muito volátil. Não resulta de algo que tenha ocorrido no setor, a bolsa está acompanhando os movimentos do mercado internacional e acabou impactando no desempenho dos papéis das empresas", disse. "Logo após o Fed [banco central dos EUA] anunciar ontem que manteria a taxa de juros, houve queda das ações, mas logo depois ocorreram recuperações. Mostra que não se tratou de movimento específico por conta de desempenho das empresas", disse Denise.
Para Fausto Gouveia, analista da WinTrade, home broker da Alpes Corretora, o movimento de queda se tratou de algo pontual. "Pode ter sido algum fundo liquidando papéis. Pode ter relação com o mercado dos EUA, mas não é possível afirmar que as baixas tenham acontecido por conta desse fator". O Marfrig fechou em alta de 5,47% e o Minerva em baixa de 6,07%.
Veículo: DCI