Inflação sobe no atacado com forte pressão nos insumos industriais

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A inflação no atacado alcançou, em fevereiro, o terreno positivo no acumulado em 12 meses. Até janeiro, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP?DI) acumulava queda de 0,23%, mas, com a elevação de 1,09% verificada em fevereiro, o acumulado em 12 meses passou a 0,77%. A alta de fevereiro praticamente repetiu o registrado no primeiro mês do ano - 1,01%. Puxado por alta nos preços agrícolas, principalmente nos insumos para produção industrial, os fabricantes aproveitaram os primeiros meses do ano para recompor margens perdidas na crise.

 

Dentre os índices calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) para o atacado, o IGP-DI é o que capta o movimento mensal, uma vez que seu período de coleta vai do primeiro ao último dia do mês - diferentemente do IGP-M, que registra a variação entre o dia 20 de um mês e o dia 10 do mês seguinte. Assim, no primeiro bimestre, a alta de preços no atacado foi de 2,1% - revertendo, assim, a deflação histórica registrada em 2009, de -1,73%. Sustentados por uma atividade que se acelera, os reajustes de preços, no entanto, não devem manter o mesmo ritmo. Para analistas consultados pelo Valor, é "altamente improvável" que os valores verificados em janeiro e fevereiro sejam repetidos ao longo do ano.
 
 

O começo de 2010 concentrou, além das pressões sazonais em custos com material escolar, alta nos preços das commodities - cujo preço é negociado internacionalmente -, desvalorização cambial e manutenção do mercado interno aquecido. Assim, segundo os analistas, a necessidade reprimida, por parte dos produtores nacionais, de repor parte dos preços que desabaram no auge da crise mundial, ganhou espaço para acontecer. "Além disso, todo começo de ano ocorre aquele fenômeno gregoriano, quando o vendedor aumenta um pouquinho o preço simplesmente porque o ano mudou. É uma espécie de resquício da memória inflacionária em menor escala", avalia Fabio Silveira, economista da RC Consultores.

 

O dado que serve como termômetro para a recuperação da atividade econômica, avalia Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, é o subgrupo materiais para manufatura. Neste item, diz Quadros, estão alocados os insumos que a indústria utiliza para produzir. Agrupa desde farinha de trigo até produtos siderúrgicos, passando por ácidos usados para produzir fertilizantes e fios de fibras artificiais. Em fevereiro, esse subgrupo acusou alta de 2,8%, vindo de uma alta já expressiva em janeiro, quando registrou 2,1%.

 

"O resultado no período é simbólico, porque até novembro o índice estava no negativo", diz Quadros. Em novembro do ano passado, o preço de materiais para manufatura havia recuado -0,16% e, em dezembro, apresentara tênue melhora, com alta de 0,12%.

 

O ácido sulfúrico, utilizado na produção de fertilizantes, teve alta de 41,8% no mês passado e, no bimestre, acumula alta de 61,3%. "Uma alta forte, mas que ainda não recuperou as perdas registradas em 2009", afirma Quadros. No acumulado em 12 meses, o preço do aço sulfúrico ainda apresenta queda de 5,5%. Da mesma forma, a placa de aço, outro insumo muito requerido na construção civil, indústria automobilística e de eletrodomésticos, viu seu preço de uma tonelada saltar de R$ 422 para R$ 503, entre janeiro e fevereiro.

 

O câmbio teve papel importante nesse processo, avaliam os economistas. No ano passado, quando o dólar passou de R$ 2,33 a R$ 1,74, não havia muito espaço para reajustes de preços, uma vez que o importado ficou 25,3% mais barato, apenas com a valorização cambial . No começo deste ano, no entanto, houve desvalorização - o dólar chegou a valer R$ 1,87, no início de fevereiro. "A desvalorização deu espaço para maior recomposição de preços, porque a demanda interna não cessou", diz Silveira, para quem "essa alta mensal, no atacado e no varejo, não vai continuar ocorrendo".

 

O economista cita o caso do álcool, que pressionou os IGPs e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), entre o fim de 2009 e o começo deste ano. "Nos 30 dias entre o início de fevereiro e a semana passada, o álcool anidro caiu 15% e o hidratado perdeu 19%", diz Silveira. "É um sinal de que mesmo problemas de safra, no caso, de cana-de-açúcar, estão sendo resolvidos conforme a safra de 2010 é despejada no mercado."

 

Veículo: Valor Econômico


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