Cartões viram motor de ganho dos bancos

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Receitas de serviço de cartões cresceram 43,8% em 2009 devido à bancarização e à expansão de pagamentos eletrônicos

 

Cartões processam 25% das transações de consumo no Brasil; expectativa é que cheguem a 43% em dez anos, segundo consultoria

 

Os cartões de crédito e débito, cujo mercado passa por reformulação devido ao fim da exclusividade das bandeiras Visa e Mastercard, viraram um dos negócios mais lucrativos e de maior expansão dos bancos.

 

No ano de crédito fraco, os principais bancos brasileiros conseguiram faturar alto com cartões, o meio de pagamento que cresce 20% ao ano e absorve as transações feitas antes por cheques e dinheiro.

 

Só com serviços envolvendo cartões, como anuidades e percentual das transações, os quatro maiores bancos brasileiros -Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander- faturaram R$ 12,8 bilhões em 2009, volume 43,8% maior do que no ano anterior.

 

A participação dos cartões no total da receita de serviços desses bancos também saltou de 21,9% para 31% em um ano.

 

Os cartões envolvem uma gama diversificada de fontes de receita para os bancos: tarifas de anuidade, comissão das transações, processamento de dados, operações de crédito rotativo e adiantamento ao lojista de compras parceladas.

 

Para os bancos, o aumento das receitas com cartões decorre de duas forças: crescimento da base de clientes e aumento das transações via cartões.

 

Os cartões são hoje o meio de pagamento de 25% das transações de consumo, segundo a consultoria Boanerges & Cia. Nos EUA, 48% do consumo passa pelo cartão. Até 2019, a expectativa é que processem 43% do consumo no Brasil.

 

Segundo o consultor Boanerges Ramos Freire, o cartão de crédito e débito virou o principal instrumento da bancarização brasileira, que ganhou um apelo adicional durante a crise por minimizar os riscos de inadimplência. "Cartão é o produto que tem o maior apelo para quem está entrando no sistema. Ele agrega serviço e traz prestígio; mostra que a pessoa tem crédito na praça", disse.

 

Duopólio

 

Os ganhos reportados pelos bancos dizem respeito apenas ao relacionamento com o cliente, dono do cartão. O outro lado do negócio, que liga o lojista ao banco, está nas mãos do duopólio Cielo (ex-Visanet) e Redecard, antigas detentoras das bandeiras Visa e Mastecard. As duas têm 95% desse mercado.

 

Como os bancos têm participação nessas empresas, acabam ganhando indiretamente. Bradesco e BB são acionistas da Cielo. O Itaú Unibanco controla a Redecard.

 

Agora, o Santander decidiu entrar diretamente no mercado para competir com Cielo e Mastercard, fazendo também o credenciamento do comércio e oferecendo adiantamento de compras parceladas. Com isso, o banco participará dos dois lados dessa cadeia eletrônica.

 

"Estamos reinventando esse negócio. A estratégia é aproveitar sinergias no atendimento a pequenas e médias empresas", disse Cassius Schymura, diretor de cartões do Santander.

 

Do lado do banco, o fim da exclusividade de bandeiras facilitará o compartilhamento tanto dos terminais dos lojistas quanto de caixas eletrônicos.

 

"O regulador está fazendo a evolução para um mundo mais aberto sem atropelar ninguém. O volume de transação de cartões é enorme; não pode desestabilizar isso. Se isso acontecer, perde-se um pouco de emprego e de PIB", disse Carlos Zanvettor, diretor de cartões do Itaú.

 

Para o presidente da Abecs (associação das empresas de cartão), Rogério Caffarelli, o fim da exclusividade das bandeiras vai beneficiar, inicialmente, os lojistas, mas chegará ao consumidor na forma de redução das transações.

 

Caffarelli, que é vice-presidente do BB, afirma que cada banco tem contratos e custos diferentes para trabalhar com bandeiras e lojistas. "O banco tem uma estratégia diferente para trabalhar com cada adquirente [empresa de cartão] e cada bandeira. Por isso, vai estimular a venda de alguns cartões oferecendo custo. Quem vai ganhar são os usuários."

 

Veículo: Folha de São Paulo
 

 

 


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