A economia brasileira cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado, maior alta da série histórica iniciada em 1995. "Especificamente neste trimestre, o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] no Brasil só não foi mais alto do que o da China, que cresceu 11,9% no período", avaliou a gerente de contas trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis.
No entanto, a base de comparação é baixa, já que em 2009 a economia brasileira sofreu o maior impacto da crise financeira internacional, que eclodiu em outubro de 2008.
A contribuição para o bom desempenho da economia veio da expansão de 14,6% da indústria em comparação com os primeiros três meses do ano passado, seguido por altas de serviços (5,9%) e agropecuária (5,1%). Ainda nessa comparação, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - principalmente com o crescimento da produção interna de máquinas e equipamentos e construção civil (14,9%) - teve a maior alta desde o início da série, de 26%.
Com relação ao quarto trimestre de 2009, o avanço do PIB foi de 2,7%, chegando a R$ 826,4 bilhões. Nesta comparação, o dado final foi puxado pela indústria, cuja alta foi de 4,2%, seguida pela agropecuária (alta de 2,7%) e por serviços, que também apresentou elevação de 1,9%, dentro do período comparado. A taxa de investimento neste quadro subiu para 18% e a taxa de poupança bruta atingiu 15,8%.
Ao comentar os resultados, a gerente do IBGE observou que em uma lista de 17 países, o PIB do Brasil no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2009 superou as taxas de crescimento (ou de queda na economia) para o mesmo período do Canadá (1,5%); Suécia (1,4%); Japão (1,2%); Portugal (1%); Estados Unidos (0,8%); Itália (0,5%); Suíça (0,4%); Reino Unido (0,3%); Alemanha (0,2%); União Europeia (0,2%); países da zona do euro (0,2%); Espanha (0,1%); França (0,1%); México (retração de 0,4%); Grécia (recuo de 0,8%); e Chile (queda de 1,5%).
Demanda
Segundo o relatório do IBGE, dentre os componentes da demanda interna, a despesa do consumo das famílias cresceu 9,3%, no primeiro trimestre, sendo o vigésimo sexto avanço consecutivo nessa comparação e voltando ao mesmo patamar de crescimento do terceiro trimestre de 2008. Já a despesa de consumo da administração pública expandiu 2% em relação ao mesmo período do ano passado.
O resultado não foi ainda maior porque o setor externo não apresentou equilíbrio. As exportações de bens e serviços cresceram 14,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, enquanto as importações avançaram 39,5%. "Essa evolução das importações representa forte descompasso, o que reflete desequilíbrios que podem comprometer gravemente seu desempenho no futuro próximo", diz o Iedi.
Análises
"O resultado do PIB no primeiro trimestre estava em linha com as minhas expectativas. Mas o que mais surpreendeu foram as revisões para cima dos últimos trimestres", afirma o economista da Um Investimentos, Eduardo Otero. "Desta forma, acredito que o fechamento do primeiro trimestre vai ser revisado para cima também, isto porque o resultado da produção industrial da semana passada não foi colocado neste dado do PIB", acrescenta.
O IBGE revisou de 2% para 2,3% a expansão do PIB no quarto trimestre ante o terceiro trimestre do ano passado e de 1,7% para 2,2% o crescimento observado no terceiro trimestre do ano passado ante o segundo.
Otero projeta avanço do PIB a 7% neste ano. "Porém, tudo vai depender do cenário internacional, já que os países europeus estão reduzindo gastos, o que significa menos importações de produtos brasileiros e menor investimento no País", comenta.
Para o professor do Mackenzie, Pedro Raffy, os números do PIB do primeiro trimestre não surpreendem "à medida que a base de comparação é muito baixa". "Em compensação, o período foi atípico, já que a taxa de juros estava baixa, ao mesmo tempo em que havia uma política fiscal expansionista. No decorrer do ano, este cenário vai ser alterado", diz.
De acordo com a análise do Iedi, "os dados mostram que, nos últimos trimestres, a atividade econômica caminhou em ritmo forte e, devido a isso, foi capaz de deixar para trás os efeitos negativos da crise internacional que atingiram o País. Os resultados não corroboram as análises que apontavam para um crescimento do PIB de até 12% no primeiro trimestre deste ano com relação ao mesmo trimestre de 2009, ou seja, eles relativizam o diagnóstico de superaquecimento", diz o texto.
Outro ponto a ser considerado, de acordo com o economista da Um Investimentos e com Raffy, é de que o resultado do IBGE não deve mudar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa básica de juros (Selic) a ser divulgada hoje. A grande maioria dos economistas, prevê alta de 0,75 ponto percentual da Selic.
Veículo: DCI