Brasil deve sofrer com crescimento mais modesto da exportação e restrições ao crédito
As projeções de crescimento do Brasil para 2009 estão em processo de queda, acompanhando o agravamento da crise financeira internacional. Ilan Goldfajn, sócio e fundador da Ciano Investimentos, nota que há não muito tempo havia projeções otimistas, particularmente do governo, de um aumento do PIB de 4,5% no próximo ano. “Algum tempo depois, já se falava em 3,5% a 4% e agora começa a se falar em 3% a 3,5%”. Goldfajn, que é ex-diretor do Banco Central (BC), acha que o País vai crescer em torno de 3% em 2009, com o resultado final podendo ficar um pouco abaixo ou um pouco acima disso.
Os analistas explicam que, por mais violenta que seja a crise, a perda em termos de crescimento só deverá ocorrer a partir de 2009, por questões estatísticas e também por causa da defasagem entre os primeiros efeitos na economia real (que já estão sendo sentidos na área de crédito) e a redução de fato da produção e da renda. Mesmo em 2009, observa Goldfajn, um crescimento de 1,4% já está garantido, por questões estatísticas, ainda que a produção estacione no nível de dezembro. Para 2008, há um consenso de que o Brasil deve crescer de 5% para cima.
Os economistas vêem basicamente dois canais para a contaminação do Brasil pela crise financeira internacional, apesar dos sólidos fundamentos da economia do País. O primeiro é o comércio internacional. A receita brasileira de exportações deve ter forte desaceleração no crescimento ou até cair (nos cenários mais pessimistas), pelo efeito duplo da queda do preço das commodities e de venda menores para um mundo desaquecido. Com menos renda externa, o País também será forçado a importar menos ou arriscar-se a um aumento perigosamente grande do déficit em conta corrente.
O segundo canal, como nota Joel Bogdanski, economista do Itaú, é o crédito e o acesso a capital (o mercado de lançamentos primários de ação está praticamente fechado), que vão afetar os investimentos das empresas. Com a freada brusca do mercado interbancário fora do País, em razão da crise bancária nos Estados Unidos e na Europa, o Brasil perde um complemento que não é grande, mas tampouco desprezível, no crédito doméstico. “Não vai haver crédito suficiente para todo mundo”, prevê Bogdanski.
Giovanna Siniscalchi, economista do Unibanco, prevê uma queda forte nos investimentos (a chamada formação bruta de capital fixo), que cresceu a um ritmo anual de 16% até o primeiro semestre de 2008. Pela sua estimativa, o ritmo deve cair para a casa de um dígito em 2009.
O crescimento em 2009 não depende apenas do contexto internacional, mas também da forma como o Banco Central (BC) vai conduzir a política monetária. “Se o crescimento despencar, eles devem cortar os juros”, diz Bogdanski. Ele nota, porém, que o BC “não é de grandes ousadias” e nunca deixa de se preocupar com a meta de inflação.
SAÍDAS
José Alencar
Vice-presidente da República
“O Brasil tem condições excepcionais de atravessar a crise, mas, para garantir boas condições durante a turbulência, precisa fortalecer seu mercado interno e não deixar faltar recursos
para financiar, a custos econômicos, as exportações e a produção interna”
Armando Monteiro Neto
Presidente da CNI
“Antes da rejeição do pacote de ajuda aos bancos, a CNI já previa uma expansão do PIB de 3,5% em 2009. Esse crescimento pode ser ainda menor, mas é prematuro fazer projeções. Não podemos ser alarmistas, mas também não podemos achar que o Brasil é imune ou que tem uma blindagem absoluta”
Josué Gomes da Silva
Presidente do Iedi e da Coteminas
“As instituições financeiras internacionais mantêm dinheiro em caixa, com medo do que pode acontecer em termos de corrida aos bancos. Na medida em que essa desconfiança sobre o sistema passar, não tenho dúvida de que as primeiras linhas que vão se abrir serão para o Brasil”
José A. Drummond Jr.
Presidente da Whirlpool
“Este momento requer atenção redobrada e cuidado no equilíbrio das contas. Isso vale para as empresas e para o governo. Apesar do aperto no crédito, os fundamentos da economia são sólidos, como o controle da inflação, os investimentos, o crescimento de emprego e renda”
José Roberto
Mendonça de Barros
Sócio da MB Associados
“O que mais me chama atenção no momento atual é o tamanho do aperto de crédito. Há uma escassez de dólares sem precedentes. As empresa terão de mudar o foco e olhar para a estratégia financeira. Isso pode deixar algumas empresas em situação difícil”
José Julio Senna
Sócio-diretor da MCM Consultores
“O cenário para o Brasil será contracionista, com a desaceleração forte da economia mundial em 2009, que deverá se ampliar em 2,5% ante 3,7% este ano. Os efeitos da contração serão sentidos em várias facetas da economia brasileira. Não será o fim do mundo”
Veículo: O Estado de S.Paulo