Os resultados dos últimos dois leilões de energia realizados pelo governo devem aumentar a dependência energética brasileira. Segundo cálculos da consultoria Gás Energy, as térmicas a óleo combustível vencedoras dos leilões se comprometeram a importar uma quantidade do -produto maior do que o volume de gás que o Brasil importa da Bolívia. O excesso de novas térmicas a combustíveis fósseis recebeu ontem críticas também do diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman.
Estudo elaborado pela Gás Energy aponta que as térmicas a óleo venderam 1,9 mil megawatts (MW) firmes no leilão de ontem, para entrega em cinco anos, mais 830 MW no leilão de setembro, para entrega em três anos. Segundo Marco Tavares, diretor da consultoria, tais volumes necessitam de uma quantidade óleo combustível equivalente a 34 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. O Brasil importa atualmente 31 milhões de metros cúbicos de gás boliviano.
De acordo com Tavares, a Petrobras não aceitou se comprometer a entregar esse volume de óleo combustível, que será fornecido por uma trading internacional. "Ficamos dependendo de outra Bolívia, representada por um volume equivalente de importação de óleo combustível, que deverão mobilizar estoques suficientes e uma frota considerável de barcos com sete dias de antecedência de aviso, conforme nosso modelo atual de despacho", destaca o estudo da Gas Energy.
A constatação de térmicas a óleo combustível é crescente nos últimos leilões realizados pelo governo, frente às dificuldades no licenciamento de novos projetos hidrelétricos.
"Se um marciano chegasse aqui agora acho que ele teria sérias dificuldades para entender o que leva este país de proporções continentais a desprezar o seu potencial hídrico e queimar óleo ou gás em usinas térmicas", comentou o diretor-geral da Aneel em palestra no 5º Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase), ontem no Rio.
Além do desgaste ambiental e do custo mais alto, Kelman destacou a opção por esta fonte de energia não foi considera questões logísticas.
"Como exercício, calculamos que se todas as unidades leiloadas entrassem em operação ao mesmo tempo, seriam necessários 1,5 mil caminhões trafegando pelo país diariamente, cruzando distâncias em média de 12 horas", disse o executivo. "Será que o cálculo do desgaste das estradas e do gasto do combustível para o transporte destes caminhões foi computado no custo final da energia gerada por estas usinas?"
Tarifa mais cara no rj. O Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ acredita que, com o resultado do leilão, haverá aumento da tarifa para os consumidores finais, especialmente para os consumidores de três distribuidoras: a Cemat, de Mato Grosso, a Copel, do Paraná, e a Ampla, do Rio de Janeiro.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ