A desaceleração do IPCA em junho reduziu as previsões do mercado tanto para o índice oficial que mede a inflação, quanto para a taxa básica de juros (Selic) deste ano. De acordo com o relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), os especialistas consultados pela autoridade monetária reduziram suas projeções do IPCA de 5,65% para 5,45% e da taxa Selic, passando de 12,13% ao ano para 12% ao ano.
"Houve a substituição da expectativa do IPCA de junho de 0,12% para 0%, conforme registrado pelo IBGE, e a queda (observada no Focus desta semana) acompanhou esta mudança e alterou o fechamento do índice para 2010", explica o analista da Tendências Consultoria, Bernardo Wjuniski. "As medidas tomadas pelo Copom (Comitê de Política Monetária) visando restringir a pressão inflacionária começam a dar sinais positivos, embora a inflação esteja acima da meta, que é de 4,5%", entende o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp), Evaldo Alves.
Segundo Wjuniski, os demais índices de preços acompanharam essa alteração do IPCA. A perspectiva do IGP-DI apresentou queda, passando de 9,03% para 8,68%; da mesma forma, os consultados pelo BC reduziram suas estimativas para o IGP-M, de 9% para 8,89%. Sobre o IPC-Fipe, o mercado espera fechamento a 5,15%, ante previsão anterior de 5,24%. Para 2011, somente o IGP-M teve uma ligeira revisão nas expectativas (de 5% para 5,01%). Com relação aos demais índices de preços, as previsões se mantiveram estáveis: IPCA a 4,80% (há 13 semanas), IGP-DI a 5% (há 10 semanas) e IPC-Fipe a 4,5% (há 25 semanas).
De acordo com o Focus, os economistas entrevistados aguardam para outubro o fim do aperto monetário deste ano, diferentemente na projeção anterior que observava altas da Selic até a reunião de dezembro do Copom. Já a Tendências aposta em mais duas altas de 0,75 ponto percentual e uma de 0,5 ponto percentual fechando o ano a 12,25%. Para o IPCA, eles projetam encerramento a 5,4% em 2010.
O economista da banco Schahin, Silvio Campos Neto, afirma que, apesar dos bons sinais de junho (variação zero), para os próximos meses não se deve esperar a manutenção da inflação oficial nesses patamares ao redor de zero. "A deflação dos alimentos irá perder força gradativamente, e diante de alguns fatores de pressão, como serviços e administrados, o IPCA irá naturalmente voltar a acelerar."
Segundo Campos Neto, os indicadores recentes influenciaram em uma reavaliação sobre o cenário atividade e inflação. "É prematuro tomar estes indícios como definitivos para o segundo semestre, até pelo fato da conjuntura ainda sugerir uma demanda interna aquecida. Todavia, ao menos cabe um acompanhamento mais atento dos dados que estão por vir no curto prazo, especialmente diante dos efeitos que podem ter sobre as perspectivas para a política monetária", diz.
Wjuniski acredita que a tendência é de que tantos os índices de preços como o demais indicadores econômicos sejam avaliados para um cenário futuro estável. "Só se a inflação dos próximos meses apresentar alguma surpresa, as previsões serão alteradas, do contrário, as expectativas se estabilizarão", acrescenta. Segundo o Focus, a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) se estabilizou em 7,2% (conforme projeção da semana passada), neste ano, e 4,5%, em 2011 (mesma estimativa há 31 semanas).
De acordo com análises da diretoria de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o PIB brasileiro deve fechar o ano em 6,5%. Mas, para 2011, a projeção aponta queda, com PIB fechado a 5%. "Um dos fatores que reduzem a expectativa de crescimento econômico para o próximo ano se deve à tendência de elevação da taxa de juros. E a Selic em alta vai provocar a redução ainda maior dos investimentos produtivos no País", justifica o conselheiro da Anefac, Roberto Vertamatti.
Os índices de inflação em junho, especialmente o IPCA, indicador de preços oficial, que ficou em 0% no mês passado, fizeram com que o mercado revisasse para baixo suas projeções de alta dos preços e dos juros em 2010. O boletim Focus divulgado pelo Banco Central mostra que as instituições financeiras diminuíram suas previsões do IPCA de 5,65% para 5,45% em uma semana, e, dos juros, de 12,13% para 12% ao ano em dezembro. Os economistas acreditam que o aperto da política monetária deve ocorrer até outubro, não mais até dezembro, como se esperava até a semana passada. Especialistas afirmam que ainda é cedo para falar em parada do ciclo de alta dos juros antes mesmo de outubro, mas, se a inflação continuar neste ritmo de desaceleração, o BC pode optar por brecar a alta.
Veículo: DCI