O Brasil investe no exterior

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Entre janeiro e maio, as multinacionais brasileiras fizeram mais investimentos diretos no exterior do que as empresas estrangeiras no Brasil: esses valores foram, respectivamente, de US$ 11,16 bilhões e de US$ 10,68 bilhões. Além das oportunidades surgidas em decorrência da crise nos países desenvolvidos, as políticas cambial, financeira e tributária do governo brasileiro são um incentivo para as múltis locais interessadas em ampliar suas bases globais.

 

Apenas neste ano, grupos empresariais como Gerdau, Marfrig e Braskem já investiram mais de US$ 3 bilhões na compra de empresas ou na consolidação de sua posição em companhias de que já participavam, e a Votorantim adquiriu parte do grupo português Cimpor. A Romi, fabricante de máquinas, fez há pouco uma oferta hostil pela norte-americana Hardinger, que, se aceita, levará o grupo a faturar mais no exterior do que no Brasil. São exemplos da crescente atuação de um conjunto de empresas multinacionais brasileiras, do qual também fazem parte Vale, Embraco, Embraer, Natura, Perdigão, Sadia, Marcopolo, Weg e Petrobrás. A Gerdau já obtém no exterior cerca da metade do seu faturamento.

 

Em todo o mundo, desde meados do século passado, cresceram muito os investimentos externos, o que permitiu às multinacionais reduzir os riscos de concentração de recursos nos mercados locais. Nos Estados Unidos, por exemplo, parcela cada vez maior dos lucros passou a vir das subsidiárias no exterior.

 

Com reservas cambiais de US$ 253 bilhões, economia em crescimento e empresas não apenas lucrativas, mas capazes de liderar mercados globais (em celulose, minério de ferro, carnes, açúcar, soja, etc.), o Brasil aderiu com atraso à tendência de aumento dos investimentos externos diretos, cujo montante passou de US$ 6,4 bilhões, em 2004, para o recorde de US$ 18 bilhões, em 2006 (no qual teve grande peso a compra da mineradora Inco, do Canadá, pela Vale), atingindo US$ 13,9 bilhões, em 2008. O valor caiu para US$ 4,5 bilhões em 2009, mas voltou a subir.

 

São muitos os fatores de estímulo aos investimentos no exterior, segundo o gerente do projeto de internacionalização da Fundação Dom Cabral, Sherban Leonardo Cretoiu, citado em reportagem de Raquel Landim, no Estado (4/7): as companhias estrangeiras perderam valor de mercado; a valorização do real aumentou o poder de compra dos brasileiros; e algumas companhias brasileiras se tornaram ainda mais fortes em processos de consolidação de mercados, casos do Itaú-Unibanco e da Brasil Foods.

 

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica, Luis Afonso Lima, as aquisições no exterior são fruto de decisões estratégicas. A internacionalização permite ganhar escala e ter maior acesso à matéria-prima, segundo um vice-presidente da Braskem, Marcelo Lira. Até 2015, a Braskem pretende investir US$ 2,5 bilhões num polo petroquímico no México e já tem garantia de fornecimento da matéria-prima (nafta) pela estatal mexicana do petróleo (Pemex).

 

Com a crise global de 2008/2009, as empresas brasileiras alteraram suas políticas de investimento externo, atribuindo menor peso à América Latina e maior aos Estados Unidos, onde está o mais importante mercado interno do mundo. Entre 2001 e 2008, a participação dos investimentos na Argentina em relação ao total de investimentos diretos caiu de 15,24% para 9,67% e, no Uruguai, de 30,69% para 6,92%, enquanto nos EUA passou de 13,08% para 28,99%, já tendo chegado, em 2010, a 37,4%. Seguem-se a França, com participação de 18,9%, e a Holanda, com 16,6%.

 

Com uma política monetária mais branda e o real menos apreciado - e, sobretudo, quando a economia global se recuperar -, as multinacionais brasileiras poderão colher os frutos dos investimentos atuais. E o Brasil, os dos rendimentos desses investimentos. Mas, no curto prazo, o mais provável é que haja um impacto desfavorável sobre o balanço de pagamentos, e isso num momento em que cresce o déficit em contas correntes.

 

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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