IPCA fica estável, mas aperto monetário deve continuar

Leia em 3min 50s

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou junho sem variação (0,0%), ficando, assim, 0,43 ponto percentual abaixo da taxa de maio. De acordo com as informações divulgadas ontem pelo IBGE, o IPCA do mês foi o menor desde junho de 2006, quando ocorreu deflação de 0,21%. Uma das explicações do IBGE, apoiada pelos especialistas, é de que a desaceleração dos preços dos alimentos, que já havia perdido força em maio, possibilitou o resultado de junho deste ano.

 

O analista da Tendências Consultoria, Jean Barbosa afirma que esta desaceleração do IPCA não deve influenciar na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na reunião marcada para os dias 20 e 21 de julho. "O Banco Central observa os números para 2011. Este ano a demanda deverá permanecer aquecida e o aperto monetário continuará. Caso ocorra maior desaceleração dos preços, pode ser que a taxa básica de juros [Selic] seja menor durante o ano, tudo depende da demanda doméstica." Ele espera que a taxa Selic termine 2010 em 12,25%.

 

Já o coordenador do Centro de Estudo em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), William Eid Junior, estima que, para os próximos meses, a inflação medida pelo IPCA deve continuar estável em função do aumento dos juros e uma possível pressão cambial. Para ele, a estabilidade do IPCA de junho está relacionada à previsão de alta nas taxas de juros, que inibe o consumo, além da estagnação na oferta de crédito, e as boas safras agrícolas, que reduziram os preços dos alimentos.

 

Influências

 

Com a desaceleração no mês passado, o acumulado do ano está em 3,09%, mesmo índice de maio. Considerando os últimos 12 meses, o IPCA situou-se em 4,84%, inferior ao acumulado no período anterior (5,22%). Em junho de 2009, a taxa era de 0,36%. Na avaliação da coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, a variação zero no IPCA do mês passado está diretamente relacionada à realização da Copa do Mundo. "Em período de Copa, os brasileiros, que são muito apaixonados por futebol, deslocam o consumo para produtos que têm relação com a Copa, como camisas temáticas e vuvuzelas, reduzindo a demanda por outros, como alimentos e automóveis", disse ela.

 

Eulina lembra também que, por causa da Copa, houve vários "feriados" não programados em junho, o que também ajudou a conter a demanda e os preços.

 

"Não concordamos com a avaliação do IBGE sobre a influência do mundial no resultado de junho. A forte queda dos preços dos alimentos influenciou na inflação do mês. Porém, a boa notícia é que a maior parte dos grupos teve preços reduzidos", analisa o analista da Tendências.

 

Os preços do grupo alimentação e bebidas desaceleraram fortemente no mês passado, ao passar de 0,28%, em maio para deflação de 0,90% em junho. A batata-inglesa, por exemplo, registrou preços 23,97% mais baixos, o que representou a mais significativa contribuição individual para o grupo (desaceleração de 0,09 ponto percentual). Apenas a refeição fora do domicílio (de 1,15% para 0,80%) e o feijão carioca (de 12,96% para 2,47%) observaram alta dos preços.

 

"Para quem não acreditava que o forte aumento de preços nos primeiros meses de 2010 tinha alto conteúdo pontual e atípico, a variação do IPCA em junho foi nula para o conjunto dos bens e serviços pesquisados", opinam os especialistas do Iedi, por meio de nota. "Em parte, o comportamento dos preços de alimentos nos últimos dois meses apenas devolve as excessivas elevações ocorridas no início do ano."

 

Demais itens

 

Conforme mencionou Barbosa, os produtos não alimentícios também contribuíram para a desaceleração do IPCA em junho, ao passar de 0,48% em maio para 0,27% em junho. O grupo transporte, com deflação de 0,21%, contribui negativamente em 0,04 ponto percentual, influenciado pela queda de preços do etanol (de deflação de 5,77% em maio para retração de 5,41% em junho) e da gasolina (de 0,01% para deflação de 0,76%). Neste grupo apenas as passagens áreas ficaram mais caras (12,57%).

 

O IBGE divulgou, ainda, que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve variação negativa de 0,11% em junho, bem abaixo do resultado de 0,43% de maio, constituindo-se no menor INPC desde junho de 2005, quando também havia sido registrada "deflação" de 0,11%.

 

Veículo: DCI


Veja também

Copa muda hábito de consumo, gera promoções e reduz IPCA

Variação é a menor desde o último Mundial, há quatro anos   A Copa do Mundo mu...

Veja mais
País perde manufatura, diz indústria

Setores químico, eletroeletrônico e de bens de capital alertam para desindustrialização de et...

Veja mais
Preço baixo não dita decisão de compra

Quase a metade dos domicílios hoje tem como prioridade experimentar novos itens (23%).   Preço baix...

Veja mais
Inflação cai a zero com ajuda da Copa

Índice oficial desacelera ao menor nível desde junho de 2006, época da Copa anterior   A Cop...

Veja mais
Arrecadação de ICMS no comércio cresce mais de 20%

O comércio do País aponta sinais de alta para este ano, resultado da economia aquecida que gera emprego e ...

Veja mais
Custo de vida sobe 0,02%, aponta Dieese

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) registrou, em junho, a menor...

Veja mais
Inflação dos pobres deve subir nos próximos meses

O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), que mede a inflação para famíli...

Veja mais
No Brasil, 53% não temem desemprego

O trabalhador brasileiro não teme perder o emprego e confia na manutenção da sua renda salarial. Es...

Veja mais
Concentração no setor de cartões reduz a eficiência, reafirma BC

O Banco Central voltou a criticar a concentração no setor de cartões. No diagnóstico anual q...

Veja mais