Sobe e desce marca economia no 2º trimestre

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Conjuntura: Comportamento dos indicadores de abril a junho aponta busca de um novo nível de crescimento


    
O ritmo da economia se acomodou no segundo trimestre. Os nove principais indicadores de atividade levantados pelo Valor apresentaram um movimento semelhante ao de uma montanha-russa. Depois de subirem com força e de forma constante nos primeiros três meses do ano, indicadores de produção, comércio e insumos, como vendas de papelão ondulado e consumo de energia, apresentaram movimento errático entre abril e junho. O mais comum foi um recuo em abril, nova alta em maio e nova queda em junho.

 

No primeiro trimestre, a produção industrial cresceu nos três meses e acumulou alta de 6,11%, enquanto o comércio vendeu 6,53% mais em relação ao nível de dezembro, já descontando fatores sazonais. No bimestre seguinte, a indústria recuou 0,8% e as vendas do varejo cresceram bem menos - 1,7%. Assim, após um primeiro trimestre de crescimento vistoso e constante, os dados apontam ritmos distintos ao longo das cadeias de produção e consumo, movimento típico de períodos de acomodação de estoques e reprogramação de encomendas. Essa é a cara do segundo trimestre.

 

São muitos os fatores que explicam essa acomodação, segundo apurou o Valor. Há desde a retirada de estímulos fiscais, como o IPI reduzido para alguns bens de consumo, até o início da trajetória de alta no juro básico. Os economistas consultados pela reportagem avaliam que houve um movimento duplo na passagem do primeiro para o segundo trimestre - o crescimento acelerado de janeiro e março recolocou a economia no patamar pré-crise, mas sua sustentação é dúvida, já que incentivos ancoraram parte do consumo

 

As vendas de papelão ondulado, importante insumo industrial, exemplificam a montanha-russa na atividade. O crescimento de 2,8% em março foi revertido no mês seguinte, quando se apurou queda de 2,7%. Com base rebaixada, a alta de maio foi expressiva - de 5,5% sobre abril. No mês passado, nova redução nas vendas, de 2,1%. As vendas de veículos, que apresentavam trajetória ascendente no início do ano despencaram por três meses consecutivos, chegando a bater -10,2% em maio.

 

A mudança de sinal atingiu também o intercâmbio comercial. As importações de matérias-primas e insumos, que poderiam indicar maior disposição para produzir no futuro, crescem mais devagar. A alta de abril, de 23,5% sobre março, veio depois de um mergulho, de igualmente 23% naquele mês. Em maio, as importações subiram 5%, sempre considerando dados com ajuste sazonal.

 

"Todos os dados sinalizam que houve crescimento menor no segundo trimestre", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Consultores. Para ele, a inflação nos preços dos alimentos verificada nos primeiros meses do ano levou à desaceleração de crescimento de vendas no setor, além de eventos como a Copa do Mundo, "que pode ter sido boa para alguns setores de comércio, mas pode ter prejudicado outros pelas paralisações ocorridas em dias de jogos".

 

Para Vale, a acomodação da atividade deve levar o crescimento trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) dos 2,7% atingidos no primeiro trimestre para 0,9% entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores.

 

Apesar de a maioria dos indicadores até agora disponíveis apresentar retração em junho, o economista Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, acredita que o ritmo da atividade econômica no país ainda é consistente. "As bases de comparação na margem começam a ficar mais altas. Ficamos com uma sensação de crescimento menor, mas bastante satisfatório, sustentável", avalia.

 

Ele cita a perspectiva de continuidade da expansão do crédito, investimento e consumo - a venda no varejo foi o único indicador que se manteve positivo em junho (0,1%) sobre maio, segundo a Serasa Experian - como fatores para garantir o avanço da economia, "embora mais modesto". "Não temos indicadores que mostrem que esse ritmo possa se reverter nos próximos seis, nove meses. Se houver alguma desaceleração será por causa de ajustes de arrumação ou algum impacto externo, o que é pouco provável, tamanha é a liquidez injetada na economia internacional. E o Brasil é beneficiário dessas ações", complementa Silveira.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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