Depois do ajuste, PIB já evolui mais forte no 3º trimestre

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Previsões apontam alta entre 0,4% e 0,9% de abril a junho

 

Após o crescimento da economia brasileira desacelerar no segundo trimestre - algo entre 0,4% e 0,9% de expansão sobre o primeiro trimestre na série com ajuste sazonal, segundo analistas - a previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB) volte a crescer em um ritmo mais robusto no segundo semestre, mas longe ainda do resultado verificado nos primeiros três meses do ano, de 2,7% na comparação com os últimos meses de 2009. Os economistas calculam um crescimento médio do PIB nos dois últimos trimestre entre 0,8% e 1,3%.

 

Segundo analistas ouvidos pelo Valor, o freio do segundo trimestre decorreu do fim dos incentivos ao consumo, como a redução de impostos sobre automóveis e eletrodomésticos, e também pelo início do aumento de juros em abril. O comportamento da política fiscal, pro outro lado, deve ter mais impacto contracionista sobre a atividade no segundo semestre, pois os governos anteciparam gastos para o começo do ano por conta de exigências do período eleitoral.

 

O resultado do segundo trimestre, no entanto, não deve impedir um crescimento forte do PIB no ano, projetado entre 6,5% e 7,8%, desempenho no limite da capacidade da economia brasileira, segundo os analistas. A retomada que se desenha já no começo do terceiro trimestre é verificada em vários indicadores mensais importantes da atividade econômica. Na indústria, a produção de veículos saiu de um desempenho negativo de 5,5% em junho para crescer 5% no mês seguinte. Em São Paulo, a produção industrial (INA) também se recuperou em igual intervalo, saindo de menos 1,9% para 1,2%.

 
 
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, destaca o avanço da massa salarial, que registrou avanço de 3% em julho sobre uma base de 0,3% no mês anterior. "A retirada dos incentivos fiscais, que determinou o desempenho bem mais fraco da economia no segundo trimestre, não terá efeito contracionista daqui para frente. Temos forte acesso à renda e confiança no crédito e no emprego, o que trará novos consumidores para o mercado, claro que sem o impulso do primeiro trimestre", pondera.

 

Para Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria Integrada, o segundo trimestre foi um período de ajuste, já que nos primeiros meses do ano o consumo robusto das famílias impulsionou a atividade e, ao mesmo tempo, comprometeu a renda no médio prazo, já que há uma participação importante de financiamentos nessas compras. "É natural ter um resultado mais baixo após um primeiro trimestre tão puxado", diz. Para a Tendências, o PIB deve ter crescido 0,4% no segundo trimestre, e nos dois próximos períodos o avanço deve ser entre 0,8% e 0,9%, impulsionado principalmente pelo o incremento da renda.

 

Um dos indicativos para a queda do PIB no segundo trimestre é a produção industrial, que caiu por três meses seguidos: 0,8% em abril, 0,2% em maio e 1% em junho, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. Nas contas da economista do Santander Luiza Rodrigues, a redução do número de horas efetivamente trabalhadas na indústria brasileira teve peso no desempenho negativo nestes três meses. "Questões temporárias afetaram vários setores. Alguns feriados no trimestre e as interrupções de produção durante a Copa do Mundo contribuíram."

 

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, explica que as vendas do comércio varejista, levantadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ilustram bem a freada da economia durante o segundo trimestre. Enquanto nos primeiros três meses as vendas subiram 4,4%, no segundo a alta foi de apenas 0,1%. "Foi uma redução de ritmo generalizada, com um impacto mais forte nos bens duráveis", explica Borges. Entre as quedas mais expressivas, estão as de móveis e eletroeletrônicos (0,5%) e de automóveis (9,2%). Segundo as projeções da LCA, o PIB cresceu 0,7% no segundo trimestre, e deve crescer na média 0,8% nos próximos dois trimestres.

 

Para Borges, esse desempenho traz tranquilidade em relação ao risco de aumento da inflação. "Não temos mais risco inflacionário. Seria preocupante para a economia se a taxa de crescimento do PIB mantivesse o ritmo do primeiro trimestre", diz ele.

 

Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil, também alerta para a insustentabilidade do crescimento no começo do ano. Segundo ele, o que ocorreu no primeiro trimestre foi o reflexo de políticas de incentivo ao consumo, e no segundo semestre a atividade deve chegar a um patamar mais próximo da realidade do país. "Um crescimento do PIB no ano acima de 5% gera gargalos na economia", diz ele.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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