A retirada de parte dos estímulos tributários ao consumo e o arrefecimento da demanda interna provocaram elevação dos estoques em 16 dos 26 subsetores industriais em julho. Nem todo esse aumento, contudo, foi considerado ruim pelas empresas. Entre os setores, 14 classificaram o acumulo de produtos acabados como superior ao planejado e, portanto, indesejado. Em uma escala de zero a cem, na qual a pontuação superior a 50 é considerada elevada, a acumulação de produtos nas fábricas atingiu 51,3 pontos no último mês frente a 49,2 em junho. Foi a primeira vez em 2010 que o indicador superou a marca de 50 pontos.
A constatação faz parte da Sondagem Industrial apresentada ontem a partir de consultas a 1.472 empresas entre os dias 2 e 18 de agosto. De acordo com esse levantamento, a acumulação indesejável de estoques está concentrada nas grandes e médias empresas. Entre os setores (ver tabela) que informaram acúmulo de produtos por vendas que não se concretizaram. figuram montadoras de veículos, fábricas de vestuário, de limpeza e perfumaria, de móveis, indústria de refino de petróleo, metalúrgicas e fabricantes de máquinas elétricas, de comunicação e de transporte.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classifica como "transitória" a ampliação indesejável de estoques. Mas lembra, por outro lado, que se a acumulação persistir em agosto será preocupante. Para a entidade, o movimento de acomodação do nível de atividade no parque fabril está sendo maior que o projetado.
Em meio a esse período de incerteza, em que a indústria tateia para detectar o ritmo de produção mais condizente com a demanda, o gerente-executivo da unidade de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, avalia que a probabilidade maior é que os estoques não sigam em nível superior ao desejado. A maioria dos industriais consultados respondeu que a demanda se manterá aquecida. Responderam ainda que pretendem ampliar as compras de matérias-primas. Para o economista, são duas informações que sinalizam que os empresários não veem obstáculos à desova das mercadorias.
Especificamente sobre a perspectiva para a demanda, o índice para agosto continua elevado em 63,1. Em relação a insumos para a produção, a pontuação também ficou alta, 60,7. Em termos de produção, a média das respostas foi de 53,4 pontos.
As projeções otimistas para demanda doméstica, compra de insumos e produção, em meio a um período em que os estoques estão elevados, se justificam, analisa Castelo Branco. Segundo ele, o segundo semestre é usualmente mais dinâmico que o primeiro e os fatores que estimulam o consumo interno se mantêm presentes na economia. "A acomodação do nível de atividade é temporária, o mercado de trabalho continua forte, a inflação voltou a baixar e o crédito não foi afetado pela elevação dos juros, processo que acreditamos ter chegado ao fim", diz.
Em contrapartida, os empresários continuam cautelosos em relação às exportações. A pontuação para as vendas feitas no exterior baixou de 52,2, em julho, para 51,8 pontos em agosto.
Veículo: Valor Econômico