As previsões de mercado para a inflação do próximo ano se distanciam cada vez mais da meta do governo, de 4,5%. Pela segunda semana consecutiva, economistas que participam da pesquisa Focus, do Banco Central (BC), elevaram as projeções para o IPCA de 2011. A mediana passou de 4,9% para 4,95%. A inflação esperada para os próximos doze meses também se elevou, pulando de 5,06% para 5,12%.
O levantamento da autoridade monetária sinaliza, portanto, que os analistas não veem uma convergência da dinâmica inflacionária com o atual patamar de juros, hoje em 10,75% ao ano. Isso fica explícito na expectativa de um novo ciclo de aperto monetário para o próximo ano, de pelo menos um ponto percentual. A Selic esperada para dezembro de 2011 está em 11,75% ao ano.
A posição dos economistas retratada no Focus caminha no sentido contrário à do Banco Central. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a autoridade monetária, em sua justificativa para a manutenção dos juros, reforçou uma visão menos pessimista sobre o balanço de riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno.
Um dos argumentos do BC para explicar o fim do ciclo de aperto é que hoje a política monetária é mais eficiente e que a chamada taxa neutra de juro da economia, aquela necessária para manter o equilíbrio entre oferta e demanda, sem gerar pressão inflacionária, é menor hoje do que foi no passado recente. O mercado, no entanto, resiste, elevando as projeções para a inflação futura.
De acordo com Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, um ponto relevante é que o cenário benigno para a inflação começa a se alterar à medida que os preços dos alimentos voltam a subir. Ele avalia que no atacado alguns preços agrícolas mostram altas expressivas que devem chegar ao varejo em breve. Além disso, aponta o economista, em um contexto de economia aquecida, com forte demanda por mão de obra, os riscos devem sempre ser monitorados. "A possibilidade de novos aumentos na Selic em 2011 é reforçada neste ambiente", diz.
A economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, tem análise semelhante. Para ela, após alguns meses de surpresas positivas no campo inflacionário, é esperada uma aceleração da inflação daqui para frente. "Os indicadores de preços ao atacado sugerem um novo ciclo de altas nos preços dos alimentos, enquanto a temida inflação de serviços segue como importante foco de pressões nos próximos meses", diz.
Ainda de acordo com o Focus, para este ano, o mercado voltou a elevar a expectativa para o IPCA, de 4,97% para 5,01%. Para a Selic, a mediana das projeções aponta estabilidade em 10,75% ao ano nas próximas duas reuniões do Copom, dia 20 de outubro e 8 de dezembro. Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o crescimento esperado passou de 7,42% para 7,47%, em 2010. Já as projeções para o câmbio no fim deste ano caíram de R$ 1,77 para R$ 1,75.
Veículo: Valor Econômico