Brasil quer ampliar comércio com os EUA

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Nunca antes na história deste país as exportações aos Estados Unidos ocuparam uma fatia tão pequena do total das vendas do Brasil ao exterior e essa situação incomoda o governo. A redução da importância do mercado americano é, em parte, explicada pela recessão no hemisfério Norte e pelo aumento da importância de outros parceiros do Brasil, como a China e os países latino-americanos, mas os EUA ainda são a maior economia do mundo, nosso maior mercado para manufaturados e um alvo prioritário da política comercial.

 

As vendas a esse mercado já representaram no passado recente mais de 20% do total das exportações do Brasil e chegaram, em 2002, a um quarto de todas as vendas ao exterior. Hoje são 9,9%. Se, por um lado, a redução da importância relativa dos EUA ajudou a minimizar os efeitos da crise internacional sobre o setor exportador, por outro contribuiu para reduzir, também, a proporção das exportações de produtos industrializados na pauta de exportações. Daí o interesse do governo em tomar providências para mudar essa tendência.

 

Nesses anos de diminuição do peso americano em nosso comércio externo, as vendas dos Estados Unidos até cresceram, mas em ritmo cada vez menor, até 2009, quando então, caíram de fato, com a crise. De janeiro a agosto de 2010, houve uma recuperação, e as exportações aos EUA aumentaram 25%. O problema é que haviam caído mais de 40% no ano passado. "Queremos retomar o que perdemos e vamos fazer ações coordenadas com os EUA", garante o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral.

 

Vendas aos EUA são hoje 9,9% do total do Brasil

 

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, estará esta semana com Barral em Washington para encontros com autoridades americanas, entre elas, o secretário do Comércio, Gary Locke, e para um seminário sobre inovação, com integrantes do governo e setor privado do Brasil e dos EUA.

 

Com Locke, Jorge e Barral querem dar impulso ao acordo-quadro sobre investimentos (Tifa, na sigla em inglês). O Tifa estabelece regras claras para os investidores e garante mecanismos mais ágeis de resolução de conflitos comerciais e com investidores. Na ausência de um tratado tradicional de proteção de investimentos, pode dar a segurança necessária a pequenos e médios empresários americanos interessados em investir no Brasil, segundo avalia o Ministério do Desenvolvimento.

 

As tarifas de importação, nos EUA, em média abaixo de 4%, não são o principal obstáculo de acesso brasileiro ao mercado americano para a maioria dos produtos. Um acordo de livre comércio também dificilmente tocaria nas barreiras elevadas, os chamados picos tarifários, impostas a produtos de interesse do Brasil, considerados "sensíveis" pelos concorrentes nos EUA, como suco de laranja, açúcar e etanol. Nas limitações à importação de fumo e nas regras que barram a venda de frango e carnes, ou nas sobretaxas ao aço brasileiro acusado de dumping (preços abaixo do normal).

 

O caminho dos exportadores para o mercado americano poderia ser facilitado com a remoção de barreiras não tarifárias e canais mais diretos de negociação para solucionar conflitos comerciais. Em um processo de aproximação que começou ainda na administração George Bush, o governo brasileiro tenta, com algum atraso, dar, nesta semana, impulso a negociações que poderão abrir caminho aos produtores brasileiros, a partir da discussão de parâmetros comuns para as normas sanitárias e normas técnicas em setores como biocombustíveis, equipamento médico e remédios.

 

"Queremos este ano recuperar o volume de exportação recorde de 2008, de US$ 28 bilhões aos EUA", garante Barral, que admite ser difícil cumprir a meta. Em 2009, as exportações ficaram em US$ 15 bilhões, em 2010, até agosto, chegaram a US$ 13 bilhões.

 

A movimentação entre Brasília e Washington acontece, porém, em momento de forte interesse por parte do governo de Barack Obama, que considera o Brasil alvo prioritário em seu plano de dobrar as exportações americanas em cinco anos. Só a China foi mais citada que o Brasil no relatório entregue pelos técnicos a Obama, com as linhas gerais do plano, na semana passada. Depende do governo, mas também do setor privado, aproveitar a oportunidade.

 

Veículo: Valor Econômico


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