Os itens agropecuários, em todos os seus estágios, foram os principais fatores de aceleração do IGP-M, que passou de 0,77% em agosto para 1,15% em setembro, destacou o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Ele avalia, no entanto, que, ainda que essa pressão tenha um caminho a percorrer no varejo por mais alguns meses, ela pode ter atingido o pico ou estar muito próxima dele no atacado. Como os preços no atacado, por sua vez, exercem maior peso sobre o IGP-M, é possível que esse indicador desacelere nas próximas medições, sinalizou.
"O segundo semestre começou com taxa baixa, mas rapidamente o IGP-M voltou ao patamar de 1%", disse Quadros, ao se referir ao fato de que em julho o indicador havia subido apenas 0,15%. "Essa aceleração tem a ver com preços agrícolas, mas não deve ter fôlego muito grande." Quadros exemplificou com a soja no atacado, que depois de subir 10,55% em agosto avançou apenas 3,07% em setembro. "Tenho a impressão de que estamos perto do limite [da aceleração de preços no atacado], e o comportamento da soja é uma indicação disso. Uma subida forte de 10% não tende a se repetir", afirmou Quadros, ao lembrar que a soja influencia bastante o desempenho de outros grãos, como o milho. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) acelerou de 1,24% em agosto para 1,60% em setembro, a maior taxa desde a de 2,20% registrada em julho de 2008. Na divisão por estágios de produção, matérias-primas brutas arrefeceram de 4,44% para 4,08% "No mês passado, captamos em cheio o reajuste do minério de ferro; agora, os agropecuários ocuparam esse espaço", disse Quadros. De fato, enquanto a alta de preços da subdivisão matérias-primas brutas minerais, onde entra o minério, passou de 13,05% em agosto para 0,11% em setembro, as matérias-primas brutas agropecuárias foram de alta de 2,24% para alta de 5,20% entre os dois meses. Alimentação também pesou sobre bens finais e bens intermediários.
Um dos destaques das matérias-primas foi algodão em caroço, que passou de 0,44% em agosto para 30,97% em setembro. "Essa trajetória, no entanto, não é sustentável por muito tempo. O preço alto deve gerar boa resposta do lado da oferta."
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), por sua vez, registrou deflação por três meses consecutivos (retração de 0,18% em junho, recuo de 0,17% em julho e deflação de 0,27% em agosto), por causa de alimentação, assim como este grupo impactou em setembro.
Veículo: DCI