Bom resultado de agosto ainda mantém governo longe de meta de superávit fiscal

Leia em 3min 40s

O governo continua bastante distante da meta de superávit fiscal para o ano. No acumulado dos últimos 12 meses, o resultado primário do setor público (antes do pagamento de juros) está em R$ 68,822 bilhões, equivalente a 2,01% do PIB, praticamente estável nos últimos meses. O nível se mantém abaixo da chamada meta cheia, sem exclusão dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de 3,3% do PIB para as contas consolidadas do governo central, governos regionais e empresas estatais não-financeiras, fora a Petrobras.

 

Essa trajetória é que tem levado o mercado a duvidar do cumprimento da meta, mesmo com os recursos decorrentes da capitalização da Petrobras. No Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central, a mediana das projeções feitas por analistas indica expectativa de 2,6% do PIB para o resultado primário do setor público.

 

Análise da LCA indica que no acumulado entre janeiro e julho deste ano o superávit soma R$ 47,8 bilhões, correspondente a 40,4% da meta anual, de R$ 118,4 bilhões projetados pela própria consultoria. Na média de 2004 a 2008, esse percentual foi de 88,6% para a mesma época dos anos anteriores. "Avaliamos que deverá ocorrer nova queda do gasto (em termos dessazonalizados) ainda no fim de 2010. Combinando isso com a arrecadação extraordinária de cerca de R$ 30 bilhões em setembro (em função da operação de capitalização da Petrobras), avaliamos que o superávit primário do setor público consolidado não-financeiro deverá encerrar 2010 em 3% do PIB", diz relatório da LCA.

 

O resultado primário em agosto foi de R$ 5,2 bilhões, o segundo melhor valor para meses de agosto, atrás apenas dos R$ 10,08 bilhões de 2008. O saldo, qualificado pelo chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes como "bom", decorre do impacto das restrições ao período eleitoral, que levaram a uma retração nas despesas públicas. Do lado do governo federal foi registrado em agosto um aumento de 14,8% nas receitas ante agosto de 2009, com uma menor variação nas despesas, de 13,6%, na mesma base de comparação.

 

Da mesma forma, o desempenho fiscal dos governos regionais no mês passado foi positivo em R$ 1,3 bilhão. As estatais fizeram um superávit primário de R$ 457 milhões.

 

Por outro lado, o pagamento de juros da dívida foi o maior da série, somando R$ 15,698 bilhões no mês. Segundo Lopes, o aumento da inflação no ano impactou negativamente a dívida atrelada a índices de preços. Um exemplo é a parcela de títulos com rendimento pelo IGP-M, que de janeiro a agosto de 2010 subiu 6,66%, ante uma contração de 2,2% em período igual de 2009.

 

A forte despesa com juros derrubou o resultado fiscal nominal do setor público, para R$ 10,476 bilhões, o pior para meses de agosto desde o início da série revisada do BC em dezembro de 2001.

 

Já a divida bruta do governo geral, que inclui a União, Estados e municípios, deve pular de 59,4% do PIB, em agosto, para 60,4% do PIB, em setembro, como resultado do novo empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 30 bilhões, feito pelo Tesouro Nacional para a capitalização da Petrobras. A expectativa, divulgada ontem pelo Banco Central leva em conta apenas os dados para o próximo mês. "Vamos aguardar o desenho da operação" para saber o impacto ao longo do ano, disse Lopes.

 

Segundo ele, do ponto de vista fiscal, o crédito da União ao BNDES para fechar a parte do banco público na compra de ações da estatal de petróleo vai gerar, em princípio, aumento na dívida bruta neste mês. Ele não descartou, a hipótese desse impacto negativo ser diluído no resultado do ano.

 

Na terça-feira, o secretário do Tesouro, Arno Augustin afirmou que a participação dos vários entes do governo na compra de ações da Petrobras teria impacto neutro na dívida bruta e impacto positivo na dívida líquida, pela forte receita que será gerada à União. Com relação à dívida líquida, que exclui da dívida bruta ativos do governo, a previsão do Banco Central para setembro é de 41,5% do PIB, leve alta em relação aos 41,4% de agosto. (Colaborou Azelma Rodrigues)

 

 
Veículo: Valor Econômico


Veja também

Câmbio ajuda a segurar preços no atacado, diz FGV

Inflação de setembro foi muito pressionada por alimentos   A alta de preços no atacado em se...

Veja mais
Preço de alimentos no atacado puxa alta da inflação do aluguel

Os itens agropecuários, em todos os seus estágios, foram os principais fatores de aceleração...

Veja mais
Inflação do aluguel dispara em setembro

Pressionado pelos preços dos produtos agrícolas no atacado, IGP-M fecha o mês com alta de 1,15%, qua...

Veja mais
Alimento sobe 4,5% no campo e pressiona inflação

De 20 preços pesquisados pelo IEA na 3ª quadrissemana deste mês, 16 registraram alta, com destaque par...

Veja mais
Meirelles admite usar IOF contra o câmbio

Mantega contesta presidente do BC, negando que medida será tomada 'neste momento'   O presidente do Banco ...

Veja mais
Governo terá superávit recorde em setembro

Com os recursos da capitalização da Petrobras, resultado primário do mês pode superar R$ 25 b...

Veja mais
Indústria antecipa importação de insumo e aumenta hora extra

Conjuntura: Empresas se preparam para atender encomendas entre 10% e 40% maiores no fim do ano   Carlos Eduardo ...

Veja mais
Preço de bem durável puxa IPCA para baixo

Aumento das importações e recuo na demanda podem estar por trás do recuo   De microcomputado...

Veja mais
Brasil sofre com "guerra cambial", diz Mantega

Ministro aponta desvalorização artificial de moedas pelo mundo   O ministro da Fazenda, Guido Mante...

Veja mais