Juros pesam mais que produto, diz BC

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Levantamento do Banco Central mostra que o devedor gasta mais com juros do que com o bem adquirido em prestações

 

Compre juro e ganhe uma geladeira. Nenhuma loja vai atrair clientes com esse chamariz pouco convincente, mas é assim que, na prática, pessoas têm se endividado.

 

Estudo do Banco Central mostra que devedores gastam mais com juro nos financiamentos que com o bem adquirido. Em julho, 13,3% do salário dos brasileiros foi destinado ao pagamento de juros e 10,5% usado no abatimento da dívida. Ou seja, a maior despesa é com o banco, e não com a loja. A crescente vantagem do juro sobre a amortização do empréstimo é atribuída em parte ao boom do crédito imobiliário, que já consome 8,1% do salário dos brasileiros.

 

A situação em que o juro é a maior despesa dentro dos financiamentos é vista há pelo menos quatro anos. E, desde 2006, a "vantagem" dos encargos financeiros sobre o pagamento do principal tem crescido. Em julho daquele ano, 11,3% do salário era consumido pelo juro e 10,1% quitava efetivamente a dívida.

 

Ao ser questionado sobre o fato de o juro ter maior peso que o principal, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, não demonstrou preocupação. "As taxas de inadimplência no Brasil estão caindo. Então, as pessoas estão conseguindo pagar suas dívidas", disse.

 

O professor de finanças pessoais do Insper, Ricardo José de Almeida, atribui boa parte do aumento do peso dos juros nos gastos familiares à disparada dos financiamentos imobiliários. "Muitos desses empréstimos são pós-fixados. Nesse caso, juro e a correção pela TR são calculados sobre o valor do original do empréstimo. E, como esses empréstimos são muito longos, os pagamentos começam com peso maior do juro que do principal", explica o professor.

 

Casa própria. No estudo, o BC afirma que o comprometimento da renda dos brasileiros com os financiamentos imobiliários mais que dobrou nos últimos anos.

 

Em janeiro de 2007, famílias gastavam, na média, 0,65% do salário para pagar essas prestações. Em julho de 2010, o valor aumentou para 1,03%. Mesmo com a alta, o diretor Carlos Hamilton Araújo considera o porcentual ainda "baixo" na comparação com outros países.

 

O levantamento mostra também que a dívida com os empréstimos imobiliários, que somava apenas 3,7% da renda anual dos brasileiros em 2007, mais que dobrou para 8,1% do salário no meio deste ano. O BC explica que o endividamento cresceu em ritmo maior que o comprometimento da renda porque os prazos foram ampliados e os juros caíram - o que reduz a parcela mensal.

 

O professor do Insper também chama a atenção para o fato de que a nova realidade do crédito no Brasil aumenta o gasto proporcional com juros.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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