Mantega quer expurgar índice de inflação para baixar taxa de juros

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Fazenda estuda criar novo índice para retirar preços de alimentos e de combustíveis e, assim, reduzir a meta de inflação e a taxa Selic

 

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer "desidratar" o índice de inflação na tentativa de reduzir a taxa de juros mais rapidamente no governo Dilma Rousseff. Embora o Banco Central já calcule os chamados núcleos da inflação medida pelo IPCA excluindo alguns alimentos e combustíveis, Mantega anunciou que o governo estuda criar um novo índice para expurgar os preços desses produtos.

 

Será o IPCA Ex-Combustíveis e Alimentação. A ideia, segundo apurou o Estado, é retirar todos os alimentos e combustíveis do novo índice, diferente do que faz o BC brasileiro hoje e como faz o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos).

 

Numa espécie de nova "contabilidade" para a inflação, seguindo estratégia que também será adotada para as contas públicas no próximo governo, Mantega justificou que a medida é necessária porque o Brasil "se acostumou a olhar a inflação cheia". O novo índice traz naturalmente à tona a discussão em torno de uma mudança na meta de inflação, fixada em 4,5% para 2011 e 2012. Enquanto o IPCA acumulado em 12 meses está em 5,20%, cálculo de um grande banco mostra que o índice com o expurgo de alimentos e combustíveis no mesmo período é de 4,16%.

 

Em junho do próximo ano, o governo decidirá a meta de inflação de 2013 e confirmará o alvo para 2012.

 

Se o governo resolver definir a meta com base no novo índice futuramente, isso pode significar menor carga de juros para conter a inflação. Com os expurgos, segundo fontes, o ministro acredita que o BC não precisará reagir a movimentos "momentâneos e passageiros" de alta de preços, muitas vezes decorrente de problemas climáticos e de choques externos. Um ponto negativo é que o núcleo dificulta a identificação de mudanças estruturais de preços de alimentos ou de combustíveis.

 

Oposição. Nos últimos anos, Mantega sempre se contrapôs ao BC por elevar os juros por conta de pressões inflacionárias desse tipo, que na sua avaliação não tinham nada a ver com aquecimento da demanda da economia. Entrou para história a declaração de Mantega, em abril de 2008, de que a culpa pela alta da inflação era do "feijãozinho que todo brasileiro come".

 

Fortalecido no cargo, Mantega indica agora que quer mudar o foco do BC do índice cheio para o expurgado. O BC, porém, sempre defendeu trabalhar com a meta pelo IPCA cheio por considerar mais fácil a população entender o sistema. Independentemente disso, o Copom tem olhado com muita atenção os núcleos do IPCA (o próprio BC calcula três) e muitas vezes decide o rumo da taxa de juros com base neles. Se estão muito elevados, o BC tende a subir os juros.

 

Em entrevista à GloboNews, o ministro avaliou que a economia precisa de ajustes para que o governo possa reduzir a meta de inflação. Para ele, uma meta mais baixa, dependendo das circunstâncias, pode significar juros mais altos e menos crescimento. Ele destacou que uma parte importante da economia brasileira permanece ainda indexada, o que dificulta a queda da meta de inflação. Entre os problemas apontados por Mantega, está a indexação dos chamados preços administrados de serviços públicos, como tarifa de energia elétrica e aluguéis, pelo IGP-M. Esse problema poderá ser resolvido com a "diluição" desse e de outros indicadores ou troca por índices melhores.

 

Copom. Faltando poucos dias para a última reunião do Copom, Mantega disse que vai aceitar caso o BC aumente os juros, mas ponderou que isso só acontecerá se for necessário. ''Nós sabemos que aumentar a taxa de juros tem um custo para o País e para o governo que paga mais pelos seus títulos'', disse.

 

O ministro também aproveitou sua entrevista ao Jornal da Globo para dar uma cutucada no atual presidente do BC, Henrique Meirelles. Ao elogiar a escolha de Alexandre Tombini para o comando da autoridade monetária, Mantega disse que Tombini tem como vantagem ser funcionário de carreira do banco, ficando com menos receio de tomar medidas que contrariem os interesses do mercado financeiro. "Acho que o Tombini é um excelente quadro. É funcionário de carreira do Banco Central, não vem do setor financeiro, então ele tem mais discernimento, quando tiver de prejudicar o setor financeiro não vai titubear e tomar medidas".

 

Vale lembrar que Meirelles é oriundo do sistema financeiro, onde fez carreira bem-sucedida no BankBoston. A assessoria do BC informou que não se pronunciaria sobre o comentário do ministro.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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