Economistas questionam novo índice de inflação

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Para especialistas, a discussão é bem vinda, mas não em momento de alta da inflação, como agora, porque pode gerar desconfiança

 

A ideia do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de criar um novo índice de inflação que exclua alimentos e combustíveis foi recebida com cautela por economistas e pelo mercado financeiro. A discussão é bem vinda, mas o momento é considerado delicado, já que a inflação está subindo, e qualquer mudança pode gerar desconfiança na população.

 

Para o professor do Insper, Ricardo Brito, a substituição de índices sugerida por Mantega tornaria o sistema menos transparente, além de gerar desconfiança na população. "Não sou simpático à ideia. Embora alguns países adotem essa medida, o bom de usar o índice de preços ao consumidor é que ele é de entendimento mais fácil, reflete mais a inflação que o consumidor está sentindo", explicou.

 

Para Brito, "quando se vai para um índice que não reflete o custo de vida do consumidor, temos uma perda de credibilidade". Ele critica também o momento escolhido pelo ministro para anunciar que considerava fazer a mudança: "Ele propõe tirar do índice justamente o que está subindo de preço agora. Isso não soa bem, é quase uma quebra de contrato com a sociedade".

 

José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio, observou que "não é preciso fazer nenhum estudo para criar um índice que retire os combustíveis e a alimentação, porque isso é algo que todo mundo calcula". Segundo Camargo, diversas instituições financeiras produzem o núcleo inflacionário com a exclusão daquele itens, a partir do IPCA, o índice oficial do sistema de metas.

 

Taxa cheia. Ele nota que o Banco Central Europeu (BCE)prefere operar com um índice de inflação "cheio" - isto é, sem exclusões -, enquanto que o Fed opta por um núcleo do qual são excluídos os alimentos e combustíveis."O núcleo de fato é menos volátil e é a parte mais afetada pela política monetária, mas não é simples convencer o público de que essa é a melhor medida da inflação para ser acompanhada no longo prazo", disse Camargo.

 

Ele acrescentou que "é ruim que o ministro fale isso agora, não pela discussão em si, mas porque aumenta a quantidade de ruído, que já está muito alta nesta transição".

 

Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Sekular Investimentos e ex-diretor do Banco Central (BC), acha que "o Brasil é recordista em número de índices para medir a inflação, e não sei se precisamos de outro". Ele considera que um núcleo por exclusão de alimentos e combustíveis é "uma boa discussão, mas nada para daqui a um ou dois anos; talvez uma evolução do sistema lá na frente".

 

Figueiredo acrescentou que não vê a "a menor possibilidade de que haja qualquer manipulação da inflação com as pessoas que estão lá no BC". Para ele, Alexandre Tombini, o novo presidente indicado por Dilma Rousseff, "é um supertécnico que entende muito do sistema, e montou o primeiro modelo do sistema de metas de inflação".

 

Divergência

 

RICARDO BRITO
PROFESSOR DO INSPER
"Não sou simpático à ideia. Embora alguns países adotem essa medida, o bom de usar o índice de preços ao consumidor é que ele tem um entendimento mais fácil, reflete mais a inflação que o consumidor está sentindo."

 

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO
ECONOMISTA DA OPUS GESTÃO DE RECURSOS
"Não é preciso fazer nenhum estudo para criar um índice que retire os combustíveis e a alimentação, porque isso é algo que todo mundo calcula."
"O núcleo de fato é menos volátil e é a parte mais afetada pela política monetária, mas não é simples convencer o público de que essa é a melhor medida da inflação para ser acompanhada no longo prazo."

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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