Em entrevista exclusiva na noite de quarta-feira ao Jornal das Dez, da GloboNews, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a Fazenda estuda a formulação de um índice inflacionário que exclua alimentos e combustíveis, como ocorre na economia dos Estados Unidos.
Ao ser indagado se propunha uma mudança na metodologia de cálculo da inflação, respondeu: "Não é mudar. É deixar a que está aí e acrescentar uma indicação que tire alimentos e combustíveis". Em seguida, ponderou que os núcleos de inflação nos Estados Unidos refletem a mudança proposta, mas salientou que, no Brasil, "nós estamos acostumados a olhar a inflação cheia".
Ao apresentar a proposta de um novo índice, Mantega respondia a uma pergunta sobre a possibilidade de estabelecer no futuro metas de inflação inferiores a 4,5%. Para que isso ocorra, o ministro disse que o Brasil precisa resolver dois problemas: a indexação na economia provocada pelos preços administrados e o impacto causada pelas commodities na economia brasileira.
"Para que a gente possa pensar na meta de inflação mais baixa, sem prejudicar o País, precisamos fazer alguns ajustes na economia brasileira", disse.
Um desses ajustes, de acordo com Mantega, diz respeito ao fato que "parte importante da economia brasileira é indexada", carregando uma inércia inflacionária que passa de um ano para outro. "São as tarifas indexadas ao IGP-M. E, muitas vezes, o IGP-M traz a influência das commodities e do câmbio", explicou. "Isso é principalmente energia elétrica, tarifas de serviço público que são um terço dos preços da economia. Esses são problemáticos."
Mantega propõe que, à medida que vençam os contratos que estão indexados a "maus indexadores", eles sejam substituídos por "novos contratos que sejam diferentes". "Quando vencer o contrato, a gente acha uma nova modalidade porque a maioria das economias do mundo não tem indexação. O Brasil teve que ter indexação porque, no passado, nós tínhamos inflação. Então, você teve de criar indexadores que são automáticos."
O ministro disse que, à medida que a inflação "vai ficando sob controle, vai ficando para trás, é possível trabalhar com diluição desses indexadores ou, pelo menos, com a substituição por indexadores melhores, de modo a diminuir a pressão que temos".
"A segunda questão é que temos uma economia de commodities e o Brasil é cada vez mais forte na produção e exportação de commodities. E o preço de commodities está subindo há vários anos. Então, exerce uma pressão inflacionária grande no Brasil" , disse.
Na entrevista, o ministro também informou que pretende estabelecer uma modernização do sistema financeiro brasileiro no sentido de aumentar o crédito privado de longo prazo, com o estímulo de mecanismos, como debêntures e recebíveis imobiliários.
Segundo ele, essa modernização abarca o envio de projetos a serem enviados ao Congresso, mas também resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) e portarias do Banco Central (BC). "Teremos novos instrumentos de crédito. O setor privado vai estar mais habilitado para dar crédito de longo prazo, substituindo o BNDES", disse.
Ao ser indagado sobre a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, subir a taxa básica de juros (Selic) na reunião de janeiro, Mantega disse que respeitará a decisão. "A decisão do BC tem sido sábia e eles terão os argumentos para aumentar. Não farão se for dispensável. Farão se for necessário porque nós sabemos que aumentar a taxa de juros tem um custo para o País e, principalmente, um custo para o governo que paga mais nos títulos públicos. Se eles decidirem, é a decisão adequada", disse o ministro da Fazenda.
A escolha de Alexandre Tombini como sucessor de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central, confirmada ontem, sinaliza que a instituição financeira terá "uma autonomia formal, mas não muito real" no governo de Dilma Rousseff. Essa é a avaliação do economista, cientista político e sócio diretor da Prospectiva Consultoria, Ricardo Sennes. "Enquanto o Meirelles é independente, a escolha do Tombini, que não era muito minha previsão, mostra um BC próximo e coordenado com o ministro da Fazenda [Guido Mantega]", disse Sennes.
Para Sennes, que participa de evento da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em Ribeirão Preto (SP), a equipe econômica de Dilma deve iniciar o governo com um aumento na taxa de juros, com o objetivo de manter a inflação sob controle até convergir para a meta de 4,5% em 2011.
Veículo: DCI