As expectativas inflacionárias, que já preveem preços acima da meta oficial neste ano, começam a se deteriorar também para 2012. De acordo com o Boletim Focus, que é alimentado com estimativas de economistas e analistas de mercado, a mediana das projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no próximo ano subiu de 4,5%, nível em que estava estacionado havia 121 semanas, para 4,54%.
Para este ano, o prognóstico para o indicador também foi elevado, pela sétima vez consecutiva, passando de 5,42% para 5,53%. As estimativas para o IGP-M (5,60% para 5,77%) e o IGP-DI (5,52% para 5,85%) deste ano também apresentaram elevação no relatório divulgado ontem.
Essas são as previsões feitas pelo mercado depois da primeira elevação da taxa básica de juros (Selic), de 10,75% para 11,25% ao ano, promovida pelo Banco Central no governo Dilma Rousseff. O Focus mostra, portanto, que o fato de a autoridade monetária ter sancionado a expectativa dos agentes ao elevar a taxa básica em 50 pontos-bases não foi suficiente para dar tranquilidade aos analistas.
Dois pontos de dúvida ainda estão na cabeça dos economistas. O primeiro é que o cenário inflacionário apresenta piora sistematicamente a cada nova divulgação dos índices. A segunda questão diz respeito ao ajuste fiscal prometido pelo governo, mas até agora não divulgado.
Na visão do Departamento de Pesquisa Econômica do Bradesco, a continuidade de resultados pressionados dos índices de inflação, divulgados nas últimas semanas, tem mantido a tendência de elevação das expectativas para este ano.
A inflação medida pelo IPC-S, na terceira quadrissemana de janeiro, registrou alta de 1,18%, superando a mediana das expectativas, que oscilavam em torno de 1,14%. Das sete classes de produtos pesquisadas, cinco registraram aumento, com destaque negativo para as altas nos itens de educação e transportes, que sofreram reajustes no início do ano. A única ressalva foi a desaceleração no segmento dos alimentos, de 1,69%, na segunda quadrissemana, para 1,64% no indicador atual.
Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, aponta que há ainda incertezas com relação ao pacote de corte de despesa fiscal. O ajuste é importante, na visão do mercado, para ajudar na tarefa de desaquecimento da economia. A discussão do reajuste do salário mínimo, em que o governo propõe R$ 545 e centrais pressionam por R$ 580, também chama atenção pelo impacto que tem na demanda e, consequentemente, na inflação. Estima-se que 60% da inflação de serviços decorre do aumento do salário mínimo.
Ainda assim, o mercado continua apostando em um ciclo total de 150 pontos-bases. Os analistas mantêm a crença de que o BC vai lançar mão de novas medidas prudenciais para conter a demanda e fazer parte do trabalho de controle inflacionário, antes restrito apenas à taxa de juros. A mediana das apostas indica Selic em 12,25% ao ano, em dezembro de 2011, e de 11% ao ano, no fim de 2012.
Esta é uma semana carregada de indicadores. Hoje serão divulgados os dados do setor externo pelo Banco Central, que também apresenta na quarta o relatório mensal de crédito. A variação do IPCA-15 de janeiro, também na quarta-feira, deverá incorporar os reajustes de educação e transportes e pode confirmar que os preços de alimentos continuam pressionados. Na quinta-feira serão divulgados os dados de desemprego de dezembro
As atenções estão voltadas para a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC. Para a equipe econômica do Santander, o documento, que será divulgado na quinta-feira, deve trazer a consolidação da piora na avaliação do cenário de inflação, deixando em aberto tanto o tamanho e a duração do ciclo de aperto monetário como também a magnitude da contribuição das medidas prudenciais no processo de convergência da inflação à meta.
Com a piora das expectativas para a inflação, que alimentam os modelos econométricos do Banco Central, as projeções de inflação, feitas pela autoridade monetária para a elaboração da ata também devem ter piorado, avalia o Santander. "A projeção do cenário de mercado estará acima do valor central da meta e não mais ao redor dela", como no documento passado, acredita o banco.
Ainda de acordo com o Focus, as projeções para o dólar se mantiveram estáveis. A mediana das previsões indica que a moeda americana deverá fechar o ano em R$ 1,75, em 2011, e em R$ 1,80, no próximo calendário. Neste mês, a moeda americana deve se situar em R$ 1,69.
Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) os respondentes do Focus acreditam em crescimento de 4,50% tanto neste ano quanto no próximo. Essas projeções estão estáveis há quase um ano. Para a produção industrial, o mercado acredita em avanço de 5,02%, em 2011, e de 5% em 2012.
Veículo: Valor Econômico