O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) de janeiro mostrou um cenário complicado para a inflação, com pressões disseminadas pela economia, que não se limitam às cotações de alimentos. O indicador subiu 0,76%, acima do 0,69% de dezembro e do 0,52% de janeiro de 2010, com alta forte dos serviços (como aluguel, condomínio, barbeiro, empregado doméstico e conserto de automóvel) e também de alimentos e bebidas. Os serviços avançaram 0,88%, mais que o 0,54% do mesmo mês de 2010, indicando que o movimento vai além de uma questão sazonal, num ambiente de mercado de trabalho aquecido e elevada inflação passada.
O IPCA-15 passou a acumular alta de 6,05% em 12 meses, a maior variação desde os 6,1% de dezembro de 2008 nessa base de comparação. É um número bem acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%.
O economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, diz que o comportamento dos serviços foi o mais preocupante no IPCA-15, indicador que mede a inflação entre a segunda quinzena do mês anterior a primeira do mês de referência. Ele destaca o aumento expressivo da taxa em 12 meses, que passou de 6,76% em agosto de 2010 para 7,93% em janeiro deste ano.
O aluguel subiu 1,23%, muito acima do 0,44% de janeiro de 2010. Para Ramos, essa alta se deve à expressiva inflação passada - grande parte dos contratos é corrigida pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) - e também ao aquecimento da economia, que faz os contratos novos serem fechados por preços mais salgados. Vários outros itens tiveram aumentos em torno de 1%, como empregado doméstico (0,91%), condomínio (1,28%), barbeiro (1,03%) e conserto de automóvel (1,37%). "A inflação de serviços no Brasil está especialmente pressionada devido à baixa taxa de desemprego e ã mudança no perfil de gastos da população", diz o economista Rafael Yamano, do Banco Fator.
Os alimentos subiram 1,21%, menos que o 1,84% de dezembro, mas uma variação ainda expressiva, que fez o grupo responder por 37% da elevação do IPCA-15. Itens como tomate, cebola, cenoura, hortaliças e verduras e frutas avançaram com força, refletindo em parte as chuvas que atingiram algumas regiões do país em janeiro.
As pressões, contudo, não se limitaram aos alimentos, como ressalta, em relatório, a economista Tatiana Pinheiro, do Santander. O índice de difusão (que aponta quantos preços subiram no período) se considerar alimentos no domicílio ficou em 70,2% em janeiro, bem acima dos 63,5% de janeiro de 2010. O indicador que engloba os alimentos ficou em 68,2%, acima dos 66,4% de janeiro de 2010.
O comportamento dos bens duráveis (como automóveis e eletrodomésticos) também não foi dos mais benignos. Subiram 0,17% em janeiro, uma alta modesta, mas uma aceleração razoável em relação à queda de 0,28% de dezembro. Para Ramos, os duráveis, que tiveram variações muito modestas nos últimos anos, podem ter um aumento um pouco maior neste ano, ainda que continuem a rodar bem abaixo dos 4,5% do centro da meta Em 2010, subiram 0,9%.
Ramos deve revisar em breve a sua projeção do IPCA para 2010 dos atuais 5,7% para a casa de 6%. A estimativa de uma alta de 7,1% para os serviços lhe parece hoje conservadora. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, já elevou a sua previsão de 5,5% para 5,8%. Ele vê um mercado de trabalho forte e um quadro ruim para os alimentos, por apostar que as commodities devem continuar pressionadas. Vale também é cético quanto ao empenho do governo em apertar as contas públicas.
Yamano tem uma visão mais positiva sobre a inflação, estimando que o IPCA fechará o ano em 5%. "Eu trabalho com um crescimento de 4% neste ano, mais fraco do que a média do mercado, de 4,5%", afirma ele, que acredita num esforço fiscal expressivo e aposta num impacto razoável das medidas de contenção ao crédito sobre a economia. Ele lembra também que a inflação fica mais pressionada no primeiro trimestre, arrefecendo no segundo e no terceiro.
Veículo: Valor Econômico