Mercosul paralisado

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A primeira viagem internacional da presidente Dilma Rousseff foi para a Argentina, o que reitera a importância atribuída pelo Itamaraty à integração com a América do Sul. A agenda do encontro com Cristina Kirchner se resumiu a alguns acordos de cooperação e declarações amigáveis. Não é de todo uma surpresa, diante do descompasso político: um governo se inicia e outro se aproxima do final.

 

Mesmo assim, foi um bom começo. Agora cabe às duas administrações renovar a pauta de interesses comuns, de modo a obter um salto de qualidade nas relações políticas e econômicas.

 

Nessa agenda, o Mercosul tem lugar fundamental. Após a paralisia dos últimos anos, com restrições unilaterais frequentes do lado argentino, cabe relançar a integração, que ameaça se tornar anacrônica no novo quadro global.

 

A demanda chinesa por commodities beneficia as exportações de Argentina e Brasil, mas torna os dois países cada vez mais dependentes desse grupo de produtos. A entrada de dólares dessas vendas ajuda a valorizar as moedas nacionais. Com isso, as indústrias de ambos perdem competitividade no mercado global.

 

O resultado é o aumento da penetração de produtos chineses, com a correspondente perda de mercado das indústrias locais. Assim, a própria razão de ser do bloco -o ganho de escala para as empresas propiciado pela unificação do mercado- fica comprometida.

 

Em 2000, as vendas brasileiras para o Mercosul representavam 14% das exportações, fração hoje reduzida a 11,2%. A China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil e, em 2010, respondeu por 15,2% das exportações (cerca de 90% são de minérios e soja).

 

Nem tudo são más notícias, contudo. Os dois mercados unidos têm escala suficiente para viabilizar a incorporação de setores de tecnologia média e alta, como a indústria automobilística: em 2010 foram quase 4,5 milhões de unidades vendidas, contra 1,6 milhão em 2002.

 

Para reforçar a competitividade do bloco será preciso repensar a insistência na ideia de união aduaneira baseada em problemática tarifa externa comum e fixar-se por ora na de zona livre de comércio, mais condizente com a perda de relevância do Mercosul num mundo mais competitivo.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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