O varejo já sente os efeitos do "arrocho" no crédito fruto do aumento no recolhimento de depósitos compulsórios determinado no início de dezembro pelo Banco Central (BC) e da recente elevação na taxa básica de juros (Selic) para 11,25% ao ano. Dados divulgados pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por meio de sua empresa SCPC Boa Vista S.A. (BVS), mostram arrefecimento nas vendas – tanto a prazo quanto à vista – e sensível alta nas dívidas em atraso no mês de janeiro de 2011.
"Embora o crescimento das vendas ainda seja satisfatório, o ligeiro aumento da inadimplência recomenda cautela por parte tanto do lojista como do consumidor", afirmou o presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar Burti.
As consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) – termômetro para as operações via crediário – subiram 8,2% no mês passado ante igual período do ano anterior.
Já o SCPC Cheque – que mede as movimentações à vista – apurou aumento de 11,6% no primeiro mês deste ano em comparação com janeiro anterior. Na análise entre dezembro de 2010 e o de 2009, houve alta de 15,8%.
Em relação ao comportamento das vendas em janeiro, Alfieri disse que embora o ritmo tenha diminuído, o resultado correspondeu às expectativas da ACSP. "O crescimento da massa salarial e as já conhecidas liquidações-relâmpago e saldões de peças de mostruário elevaram as vendas, principalmente à vista na primeira quinzena de janeiro."
O economista disse que o comparativo a dezembro, tradicionalmente, reflete a sazonalidade do período. "Não é novidade o fato de que a capital paulista, no início do ano, registra um elevado deslocamento de consumidores rumo a cidades do litoral e interior."
Renegociação – Em relação à inadimplência, os registros recebidos subiram 7,8% em janeiro ante igual mês de 2010. Por sua vez, os cancelamentos avançaram 2,5%. No ano passado, o nível de consumidores com dívidas em atraso cresceu 0,6% enquanto o patamar dos que quitaram as pendências subiu 7,7%. "As medidas macroprudenciais adotadas pelo governo federal para controlar a inflação restringiram a oferta de crédito e a tornaram mais onerosa. Com isso, está mais difícil para os consumidores conseguirem renegociar as dívidas", disse o economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), Emilio Alfieri.
Ele exemplificou. "O governo havia estimado que as ações voltadas a desacelerar gradativamente a oferta de crédito iriam retirar R$ 61 bilhões da economia, mas já reavaliou esse montante para R$ 65 bilhões." E complementou: "A taxa de juros para pessoa física em novembro era de 39% ao ano. Em dezembro, foi para 40% e, em 15 de janeiro, segundo o próprio BC, havia fechado em 45%."
Remédio – Em relação ao comportamento das vendas ao longo do primeiro trimestre, Alfieri disse que será preciso esperar. "O fato de que o Carnaval será comemorado em março interferirá de modo expressivo no movimento do varejo em fevereiro e no mês subsequente."
E acrescentou. "Só no fim do trimestre, poderemos avaliar se a dose do remédio aplicado pelo governo para controlar a inflação foi feita na medida certa ou se poderá causar efeitos colaterais para o varejo."
Veículo: Diário do Comércio - SP