Dilma teme alta de preços de alimentos e do etanol em 2012

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A presidente Dilma Rousseff está preocupada com o impacto de um eventual repique da elevação de preços dos alimentos e do etanol nos índices de inflação. Em conversa reservada com um grupo de 11 grandes empresários do agronegócio, a presidente reafirmou a prioridade de seu governo no combate à inflação e fez apelos aos presentes para auxiliá-la na cruzada contra a carestia e pelo aumento da oferta de produtos agropecuários.

 

A presidente demonstrou "especial preocupação", segundo relatos de convivas ao Valor, com uma possível nova escassez de etanol em 2012. Neste ano, o produto puxou a inflação para cima, obrigando o governo a intervir diretamente nos controles sobre o segmento.

 

O risco de desabastecimento ainda não está afastado, alertou Dilma aos empresários. Medidas como a redução da mistura do etanol na gasolina, de 25% para 18%, e a taxação das exportações de açúcar ainda estão no radar do governo para evitar desabastecimento interno e preços altos.

 

A presidente também mencionou o cenário de cotações em alta para o milho e as carnes, sobretudo a carne bovina, cujas cotações tiveram forte aceleração no início do ano. Esses são itens que afetam diretamente o bolso dos consumidores - e eleitores. Dilma também falou de Código Florestal. Reiterou sua determinação em não equiparar desmatadores ilegais com produtores que cumpriram a lei ambiental. O texto do novo código está no Senado e deve sofrer alterações a pedido da presidente.

 

Os 11 "tycoons" conversaram animadamente por duas horas com Dilma durante almoço na casa do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, na sexta-feira, em Ribeirão Preto (SP). Ficaram em uma mesa reservada aos "supervips" do agronegócio. Em outras duas mesas, o bate-papo descontraído foi comandado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) e pelo governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

 

Outros comensais ficaram reunidos em torno dos ministros Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Helena Chagas (Comunicação Social). O anfitrião Wagner Rossi participou de todas as mesas. "Ela apenas auscultou com muita franqueza e de maneira informal os convidados", limitou-se a informar Rossi ao Valor.

 

A presidente Dilma falou com os principais líderes dos segmentos de carnes, etanol, soja, pecuária, laranja, café e milho. Estavam no encontro os executivos José Luís Cutrale, José Antonio do Prado Fay (BRF), Joesley Batista (JBS), o megapecuarista Jonas Barcellos, João Guilherme Ometto (Usina São Martinho), João Antonio Lian (Cecafé), Eduardo Biagi (ABCZ), Carlos Paulino (Cooxupé) e o "rei da soja" Eraí Maggi Scheffer.

 

No longo almoço, a presidente "abriu as portas" para discutir sempre, mas afirmou não abrir mão de uma "política forte" para garantir os objetivos do governo. A principal preocupação é a garantia de oferta de alimentos e etanol a preços baixos. Os presentes concordaram que o novo plano de safra ajuda a "equilibrar o jogo" no campo com mais crédito e linhas específicas de atuação - na pecuária, na cana-de-açúcar e na redução da emissão dos gases do efeito estufa, algo caro à presidente.

 

Após algumas introduções, Dilma fez várias perguntas aos presentes. Interessou-se por cada detalhe das respostas, fez contrapontos a algumas afirmações e prometeu apoiar "no que for preciso" o setor rural, segundo um convidado. Houve uma "aproximação significativa" com os empresários, avalia um participante.

 

Parte do setor, sobretudo de etanol, estava ansiosa por um encontro com Dilma. Havia, até então, certa tensão nas relações, pela distância da presidente e a falta de interlocução direta. Diante disso, Dilma combinou com os executivos conversas formais e periódicas com cada segmento. Os encontros devem ocorrer no Palácio do Planalto, Também estavam no almoço o pecuarista Jovelino Mineiro, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) e dirigentes da Citrovita, Fischer, Raízen, ETH e Unica.

 

Na conversa, a presidente dedicou atenção especial ao etanol. Questionou o modelo de produção das usinas, quis saber sobre as decisões de investimento e os planos de longo prazo. Foi um "diálogo franco", "aberto", considerado também um marco nas relações do governo com os usineiros, avaliam fontes do encontro. Os empresários do segmento reclamaram que "alguns setores" do governo, como o Ministério de Minas e Energia, têm mais dificuldades para entender as nuances da produção.

 

A presidente atendeu aos apelos dos usineiros ao decidir que o governo financiará a ampliação de unidades produtoras de etanol "brownfield", ou seja, a expansão de usinas já existentes, mas carentes de novos investimentos. O foco desses investimento será a ampliação da área plantada de cana nas propriedades das grandes usinas.

 

Há 20 milhões de hectares de "alta aptidão" para a cana no país. Hoje, apenas 7 milhões produzem a matéria-prima do etanol. A ordem da presidente é operar no "limite superior" da capacidade de moagem das usinas para retomar com força o programa de plantio e renovação dos canaviais.

 

Os produtores independentes já ganharam uma linha de R$ 1 milhão por safra, até 2014, para investir nas lavouras. Agora, também será criada uma linha do BNDES para financiar esses aportes em usinas a juros baixos. Mas isso será destinado apenas a destilarias de etanol, e não para unidades de açúcar.

 

Pelo raciocínio do governo, os projetos "brownfield" ajudariam a ocupar o espaço esperado pelo investimento novo que não veio com a compra de grupos nacionais por multinacionais.

 


Veículo: Valor Econômico


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