A desaceleração no Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que recuou de 0,7% para 0,23% entre a primeira quinzena de maio e igual período de junho, foi provocada pelo recuo de aumentos expressivos de preços ocorridos no primeiro trimestre nos itens alimentação e bebidas e transportes. A "devolução" na inflação desses produtos também derrubou o Índice de Preços Geral-Mercado (IGP-M), que registrou deflação de 0,21% na segunda prévia de junho, após alta de 0,66% em igual período de maio.
Analistas consultados pelo Valor avaliam, porém, que a queda de preços dos produtos agropecuários, principal motivo para o recuo dos IGPs, atingiu o seu pico no Índice de Preços Geral-Disponibilidade Interna (IGP-DI) - quando os preços agrícolas registraram deflação de 3,19% - e que o ciclo de devolução das altas dos alimentos e combustíveis pode estar chegando ao fim no atacado.
No varejo, o recuo do IPCA-15 "esconde" altas mais fortes no segundo trimestre que no primeiro em alguns itens, como vestuário, habitação e saúde.
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, projeta que o Índice ao Produtos Amplo (IPA) agropecuário tenha variação negativa de 2,29% no fim de junho. "O IPA agropecuário já está acelerando, ainda em campo negativo, mas perdendo a força de sua queda", diz. Romão nota que a deflação atualmente apurada nos produtos agropecuários foi de 2,47%, contra deflação de 2,79% registrada no IPA-10.
Segundo o analista da LCA, a deflação no IPA geral (de 0,54% na segunda prévia do IGP-M), também tende a ser amenizada nas próximas leituras por conta dos combustíveis no atacado, que podem voltar a subir a partir de julho. Os preços do varejo, no entanto, defende Romão, não serão imediatamente afetados com a interrupção da queda no álcool e na gasolina. "Isso só chegará nos IPCs mais adiante. Ainda teremos taxas baixas para os preços ao consumidor em junho e também em julho", prevê o economista, para quem o IGP-M encerrará junho com deflação de 0,23%.
Outros analistas, no entanto, preveem uma desaceleração menor do item combustíveis já em julho. "Algumas quedas tendem a se acomodar. Fatalmente, teremos em junho um IPCA ainda baixo, mas a queda de combustíveis não vai mais pressionar o índice para baixo e alimentos tende a parar de contribuir", afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, que prevê taxa entre 0,05% e 0,06% para o fechamento de junho do indicador do IBGE.
Na atual leitura do IPCA-15, os itens alimentos e transportes foram os principais responsáveis pelo recuo do indicador. A alta no grupo alimentação e bebidas desacelerou para 0,11%, após alta de 0,54% na primeira quinzena de maio, e o item transportes, por sua vez, registrou deflação de 0,73%, contra alta de 0,93% no mesmo período do mês passado.
A retração do IPCA esconde por trás do número baixo pressões estruturais ligadas à demanda, sustenta Fábio Ramos, da Quest Investimentos. "O que ajudou a inflação nesse mês foram as devoluções de choques nos grupos alimentação e transportes. Em outros grupos, o choque foi tão intenso que ainda está em fase de alta, como o vestuário. A taxa de 0,23%, apesar de baixa, esconde bastante coisas por trás dela, principalmente na parte de serviços", diz o analista.
Para Ramos, a desaceleração da atividade econômica em curso tem reflexos defasados na inflação, o que explica em parte os preços de serviços ainda em patamares elevados, com avanço de 8,61% em 12 meses, apesar do recuo na taxa mensal de 0,63% para 0,54%, segundo cálculos de consultorias que agregam itens do IPCA.
De acordo com os analistas ouvidos, a atual leitura do IPCA-15, apesar de baixa, veio acima do esperado pelo mercado, e os fez revisar para cima suas expectativas para o fim de junho, diminuindo chances de deflação do índice geral no mês. Romão, da LCA, reviu sua previsão de queda de 0,02% para alta de 0,09% após a divulgação de ontem. Ramos, da Quest, também previa possibilidade de deflação do IPCA no fim de junho, mas revisou sua projeção para 0,1%.
Veículo: Valor Econômico