Varejo mantém otimismo alto mesmo com inadimplência

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Mesmo com o alto endividamento dos brasileiros, que atingiu recorde nos ultimos dois anos, o comércio varejista parece ainda não estar com o sinal amarelo. Com a injeção dos abonos de final de ano e um aumento do parcelamento das vendas, as empresas acreditam que haverá uma estabilização das dívidas e que os consumidores virão a arcar com seus compromissos, tanto que esperam um Natal similar ao do ano passado.

 

Empresas varejistas, como Casas Bahia, Magazine Luiza, Marisa, C&A, já começam a procurar seus clientes inadimplentes para sanar atrasos ainda este semestre para que no final do ano as mesmas pessoas estejam livres para efetuar novas compras, apontam os analistas. Segundo o analista Fábio Pina, da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Turismo (Fecomércio), os consumidores devem injetar no final do ano cerca de R$ 10 bilhões no varejo brasileiro. "Neste momento do ano a maioria dos consumidores não tem mais dívidas e quer comprar presentes, fazer viagens, trocar de carro e ainda fazer reformas no lar", explica o analista. A situação, porém, ainda é de alerta neste primeiro momento, Segundo os últimos dados do Serasa, em maio de 2011, na comparação com igual mês de 2010, a inadimplência das pessoas jurídicas cresceu 23,6%.

 

Nas demais variações, a inadimplência das empresas também apresentou elevação. Na relação de maio sobre abril último, o avanço foi de 16,2%. Na comparação entre os acumulados de janeiro a maio de 2011/2010, por sua vez, o crescimento foi de 7,1%.

 

Segundo os economistas da Serasa Experian, os juros elevados e a desaceleração econômica decorrentes da política monetária restritiva para controle da inflação, os impactos do aumento dos preços e o crescimento na inadimplência do consumidor no caixa das empresas já afetam sua capacidade de pagamento. O crescimento mensal na inadimplência das empresas (16,2%) reforça que a inadimplência do consumidor nas compras do Dia das Mães complica o fluxo de caixa das empresas.

 

De janeiro a maio, as dívidas com bancos tiveram valor médio de R$ 5.049,81, o que representou 5,8% de aumento ante o mesmo período de 2010. Os títulos protestados, por sua vez, compuseram, nos cinco primeiros meses do ano, valor médio de R$ 1.723,59, resultando em 7,0% de elevação, na comparação com o acumulado de janeiro a maio de 2010. Por fim, cheques sem fundos apresentaram, de janeiro a maio deste ano, valor médio de R$ 2.058,15, ou 2,7% de crescimento, na relação com os cinco primeiros meses de 2010.

 

Classe emergente

 

Apesar da informação alarmante, o Brasil continua se destacando no consumo em comparação a outros países. Para o analista Fábio Pina, a inadimplência faz parte da evolução do consumidor, que está mudando de classe e experimentando produtos que antes não comprava. "Depois da ascensão de classes os brasileiros estão tendo a oportunidade de comprar em outro tipo de mercado, muitas vezes com um valor mais alto, o que gera por um tempo curto uma inadimplência no País."

 

Uma prova disso é que a classe A do Brasil cresceu cerca de 11,1% em um período de 21 meses até maio, segundo dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV); agora essa classe totaliza 105,4 milhões de pessoas.

 

Segundo a FGV, desde 2003 o crescimento da classe C e a migração de pessoas para as classes A e B, no topo da pirâmide social, de 12,8% desde 2009, ampliaram o mercado brasileiro em mais de 50 milhões de pessoas, o equivalente a mais de uma Espanha, aponta o estudo "Os Emergentes dos Emergentes: Reflexões Globais e Ações Locais para a Nova Classe Média Brasileira".

 

Inflação

 

O crescimento da economia, com uma inflação mais estabilizada, aliado à expansão do mercado de trabalho e à melhoria das condições de renda da população, com a política de recupeação do poder de compra do salário mínimo, contribuíram de forma significativa com esse processo, de acordo com estudo elaborado pelos pesquisadores do Centro de Políticas Sociais da FGV.

 

As pessoas que estão na classe C, segundo o documento, contam com uma renda mensal familiar que varia entre R$ 1.200,00 e R$ 5.174,00. Segundo dados elaborados pela FGV, as classes A, B e C tiveram um ingresso de 48,8 milhões de pessoas entre 2003 e 2009, sendo 13,1 milhões apenas entre 2009 e maio de 2011. "Essa análise dos dados mais recentes mostra que quase a população total da África do Sul foi incorporada às classes ABC", destaca o documento. Em contrapartida, a base da pirâmide social, formada pelas classes D e E foi reduzida de 96,2 milhões de pessoas em 2003 para 63,6 milhões até maio, sendo que 9,7 milhões de pessoas migraram da base social para classes mais elevadas entre janeiro de 2009 e maio de 201.

 


Veículo: DCI


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