A atividade da indústria de transformação paulista teve forte desaceleração no primeiro semestre do ano, ao crescer apenas 3,4% sobre mesmo período de 2010. A variação é praticamente um terço da registrada de janeiro a junho do ano passado, quando o nível de atividade industrial de São Paulo havia crescido 12,7%. O número de 2011 também é o menor para o primeiro semestre desde 2007, com exceção de 2009, quando a atividade caiu 12,7% em consequência da crise financeira que atingiu em cheio o setor.
Segundo analistas consultados pelo Valor, o dado divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) antecede a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, a ser publicada na próxima terça com os resultados de junho, que deve vir com estagnação, ou mesmo queda da produção fabril no mês.
Para Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a perda de fôlego no primeiro semestre do ano era algo previsto, já que os primeiros seis meses de 2010 apenas recuperaram o tombo sofrido em 2009, mas, mesmo assim, o arrefecimento foi maior do que o esperado. "É um sinal bastante preocupante. A indústria paulista sempre influencia muito o resultado geral", diz.
O setor está vivendo um momento "nada favorável", avalia Souza, para quem os números de junho e do semestre indicam que a indústria está patinando, mas com tendência de retração ao longo do ano. A previsão do Iedi é que a produção industrial cresça ao redor de 3% em 2011, após avanço de 10,5% em 2010. "Eu tinha uma projeção mais otimista, de 3,5% no começo do ano, mas agora estou jogando ela para baixo".
O sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, afirma que a indústria terá um "bom esfriamento" neste ano, atingida pelas medidas macroprudenciais, o aumento dos juros e o câmbio excessivamente valorizado, além da elevação do nível de inadimplência, que leva a uma desaceleração nas vendas. "O INA só ratifica que devemos fechar o ano com taxa de crescimento muito baixa." A RC estima expansão de 2,8% frente 2010.
Na avaliação da Fiesp, as perspectivas da indústria também denotam estagnação da atividade. O Sensor Fiesp, que mede as expectativas dos empresários paulistas sobre a economia brasileira nos próximos meses, subiu de 50,6 pontos em junho para 51 pontos em julho, interrompendo três meses consecutivos de queda.
O indicador, no entanto, ainda está abaixo dos 56,9 pontos registrados em março, mês anterior ao início da piora na confiança do empresariado paulista. Em julho do ano passado, o sensor estava em 52,4 pontos. O índice varia de zero a 100. Abaixo de 50 pontos, indica empresários pessimistas e, acima de 50, otimistas.
Segundo o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini, o número de julho demonstra o que a entidade espera para a indústria nos próximos meses. "O sensor está dizendo que nada de diferente vai acontecer no horizonte", diz.
Para Francini, nenhum dos cinco componentes do sensor apresenta variação significativa, o que aponta para um crescimento "medíocre" da indústria em 2011. "Estagnação é a melhor palavra. O PIB só tem crescimento expressivo quando a indústria de transformação cresce acima dele", sustenta.
Veículo: Valor Econômico