Produtos acabados, provenientes principalmente de países asiáticos, têm invadido o Brasil de forma acelerada.
A valorização do real frente ao dólar, as altas taxas de juros e tributação e a falta de infraestrutura e investimentos no Brasil têm forçado o crescimento das importações em todos os setores da indústria nacional. Segundo dados da Receita Federal, o país importou US$ 19,16 milhões em julho de 2011, o que representou um acréscimo de 17,08% frente ao mesmo mês de 2010. O valor acumulado de janeiro a julho de 2011 foi de US$ 124,452 milhões, 27,49% superior ao do mesmo período do ano anterior.
Tal crescimento tem contribuído sobremaneira para a aceleração do processo de desindustrialização vivenciado no Brasil. "As importações começaram de forma lenta, mas a partir de 2005 vêm crescendo em velocidade constante", afirma Paulo Francini, diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.
Francini explica ainda que o aumento da participação das importações no consumo aparente (vendas internas mais importações) da indústria de transformação entre 2008 e 2010, custou R$ 45,3 bilhões em produção. O valor representa 4% da produção destinada ao mercado doméstico: "Em 2010, caso essa produção fosse internalizada, o valor produzido por esse setor aumentaria 3,37%, passando a R$ 1,388 bilhão, além disso, 398,1 mil novas vagas de empregos seriam geradas".
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), do total consumido no país no ano passado, cerca de 10% foram supridos pelas importações. O Brasil importou 616 mil toneladas de transformados plásticos, aumento de 31% em relação a 2009, enquanto as exportações somaram apenas 310 mil toneladas. O déficit da balança comercial do setor de transformação de material plástico foi de US$ 1,3 bilhão.
Boom - E a expectativa para esse setor não parece animadora. Paulo Teixeira, superintendente da Abiplast, diz que a participação das importações no segmento de plástico deverá saltar para 12% neste ano, chegando ao patamar de 700 mil toneladas. "O volume dobrou em cinco anos", diz. "Temos cadeias produtivas em que o plástico é fundamental. Se começarmos a importar partes, uma hora a cadeia não será mais nacional e o país ficará na mão de grandes fornecedores. Seremos apenas uma parte de uma cadeia global."
Teixeira afirma ainda que o setor de plásticos que mais tem sofrido é o B2C (venda direta para o consumidor). "Isso porque a venda é muito mais por preço que por qualidade", diz. "Estamos assistindo uma invasão de utensílios domésticos ‘made in China’ como baldes, pregadores e recipientes plásticos, que apesar do custo baixo têm um volume de vendas grande no país." Neste caso, segundo o superintendente da Abiplast, uma forma de proteger o mercado nacional é aumentar a fiscalização alfandegária: "O Brasil tem normas técnicas para a produção desses produtos que geralmente não são atendidas pelos importados".
Entre os transformadores, o segmento de embalagens nacionais também está na mira dos produtos asiáticos. Para Paulo Antonio da Silva, proprietário da Deltabag, aberta em 1999, não é apenas a importação de embalagens que tem afetado sua demanda, mas também a entrada de produtos industrializados já embalados: "Neste caso o país perde duas vezes. Deixa de produzir o produto e até a embalagem na qual ele é ofertado", alerta o empresário, que produz embalagens para diversos segmentos, como o alimentício e o de confecções.
Laércio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas (Adirplast), afirma que, quando os transformadores perdem, toda a cadeia de fornecimento de matéria-prima perde também, assim como a sociedade, que deixa de ganhar novos postos de trabalho. "Não é à-toa que já se prevê uma queda de faturamento da indústria nacional do plástico se R$ 35 bilhões."
Veículo: Diário do Comércio - MG