Investimento estrangeiro bate recorde

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Entrada de recursos para a produção surpreende e chega a US$ 6,3 bilhões em setembro; no ano, acumulado é de US$ 50,45 bilhões


Mesmo com fortes turbulências no mercado internacional, o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado ao setor produtivo, surpreendeu positivamente tanto o governo quanto o mercado financeiro.

De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, entraram no País em setembro US$ 6,33 bilhões, volume mais alto para o mês desde 2004. Com esse resultado, o saldo acumulado no ano atingiu US$ 50,45 bilhões, marca recorde para o período de janeiro a setembro.

O desempenho do IED no ano cobre com folga o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro, que registra exportações e importações de bens, transações de serviços e transferências de renda do Brasil com o exterior. Em setembro, essa conta teve saldo negativo de US$ 2,20 bilhões e no ano, déficit de US$ 35,98 bilhões.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, destacou a importância de o IED cobrir o déficit externo como um bom fundamento da economia brasileira. E salientou o fato de o IED vir forte mesmo em um período de dificuldades no mercado financeiro. "Em setembro, o IED veio acima da nossa previsão, e isso reflete a confiança dos investidores estrangeiro com o País."

Maciel observou que o investimento estrangeiro direto é menos influenciado por movimentos de curto prazo. "O ingresso é determinado por uma análise econômica de horizonte de tempo mais amplo, dada a maturidade que esses investimentos exigem", disse. "A perspectiva é de que esses fluxos continuem entrando no País", disse, destacando os investimentos para exploração do pré-sal e os eventos esportivos de 2014 e 2016.

O técnico do BC informou ainda que os dados parciais de outubro mostram que o fluxo de IED segue positivo, embora mais moderado. Até o dia 21, havia entrado no País um montante de US$ 3,40 bilhões. Maciel prevê que essa conta encerre o mês com ingresso líquido de US$ 4 bilhões.

Confiança. Para o economista da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri, de fato o resultado do investimento estrangeiro em setembro surpreendeu, por causa do ambiente de crise global, mas não é um número excepcional, já que neste ano houve resultados melhores em outros meses.

"O que surpreende é que em um mês de forte incerteza, com estresse nos mercados, o IED não sofreu, o que mostra um voto de confiança dos investidores no Brasil", afirmou, ressaltando que a explicação se dá pelo fato de o IED ter natureza de longo prazo e o Brasil ter perspectivas mais favoráveis de crescimento do que os países desenvolvidos.

Em relação ao déficit em conta corrente, que ficou relativamente baixo em setembro, Lavieri destacou que o motivo principal foi a queda forte nas remessas de lucros, explicada pela alta do dólar no Brasil. É que, com o real mais fraco, o lucro a ser enviado pelas filiais brasileiras de multinacionais fica menor. Por isso, muitas companhias podem estar esperando cotação mais favorável. Em setembro, essas remessas somaram US$ 1,96 bilhão, 61% menos que os mais de US$ 5 bilhões de agosto.

Túlio Maciel, do BC, diz que os dados de setembro reforçam o entendimento de que, mesmo com a crise, não há nada "extraordinário" com as remessas de lucros. "Não necessariamente temos observado o movimento de aumento visto na crise de 2008."

A turbulência global, porém, parece reduzir o apetite com as aplicações. Em setembro, investidores compraram US$ 409 milhões em ações brasileiras, menos de 10% do movimento de um ano antes. Além disso, o movimento com títulos de renda fixa foi ainda mais prejudicado e estrangeiros se desfizeram de US$ 1,34 bilhão em papéis brasileiros.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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