Enquanto a produção industrial nacional está num marasmo, o comércio varejista vai bem, obrigado.
Nos nove primeiros meses do ano, a indústria cresceu 1,1% e o comércio varejista, 7,6% (até 8%, se levarmos em conta veículos e material de construção). São dados que retratam o dilema brasileiro em que a demanda doméstica, muito mas dinâmica, não é seguida pela indústria, o que cria um descasamento que só a importação está podendo resolver.
No mês de setembro, o comércio varejista, recuperando o recuo que se verificou no mês anterior, com uma queda de 0,4%, certamente sob o efeito da inflação, apresentou crescimento de 0,6% (dado com ajuste sazonal).
O fato mais significativo é que, no setor de móveis e eletrodomésticos, que tem uma participação de 53,3% nas estatísticas do varejo, registrou-se em setembro um crescimento de 16,5% no volume das vendas.
Diante desse resultado, podemos considerar que as vendas do período natalino já tiveram início, possibilitando a conclusão de que o movimento do comércio no final do ano se anuncia muito melhor do que se esperava e que as famílias estão se antecipando nas suas compras, no quadro de uma renda maior do que no ano anterior.
Com uma disponibilidade de crédito boa (a custo menor) e com a dupla perspectiva, de um lado, do pagamento do 13.º salário, que deve injetar na economia cerca de R$ 122 bilhões (um aumento de 20% em relação ao ano anterior), e, de outro, de um reajuste de pelo menos 14% do salário mínimo em janeiro de 2012, as famílias não temem se endividar.
No entanto, para gastos maiores e com condições creditícias mais apertadas, como a compra de veículos, as decisões são mais cautelosas: aumentou 1,7% em setembro, mas depois de ter acusado queda violenta (de 5%) no mês anterior. Temos neste setor um efeito interessante da crise internacional, além da incerteza em relação ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os carros importados. É que o financiamento por um prazo maior, e de valor mais elevado, é lastreado por recursos externos, cujo custo aumentou por causa das dificuldades de captação.
Cabe assinalar que em setembro houve elevação significativa de gastos com vestuário (de 0,6%), enquanto se registrava queda de 5% para o setor de informática e comunicações. Há certa racionalidade dos consumidores nessa evolução: antecipa-se a compra de bens de valor baixo, enquanto se transfere para o final do ano a compra de itens de maior valor.
Veículo: O Estado de S.Paulo