Apesar do crescimento das vendas, nível de utilização do parque industrial em setembro foi de 81,6%, o mais baixo desde fevereiro do ano passado
A indústria de transformação está trabalhando com capacidade ociosa e deve reduzir ainda mais o ritmo de produção nos próximos meses, segundo avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O nível de utilização do parque industrial ficou em 81,6% em setembro, o mais baixo desde fevereiro de 2010, quando estava em 80,9%. Em agosto deste ano e em setembro do ano passado, a capacidade instalada era de 82,2%.
O economista chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, disse ontem que o setor industrial passa por um processo de adequação da produção à queda da demanda. Isso levou ao descompasso registrado em setembro entre o faturamento e a atividade industrial.
Apesar da queda na produção, o faturamento do setor aumentou. As vendas reais registraram alta pelo quarto mês consecutivo - 1% a mais que em agosto. O faturamento foi o único indicador com crescimento em setembro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as vendas reais cresceram 4,1%.
As horas trabalhadas na indústria, indicador que mede a produção, recuaram 1,3% na comparação com agosto. É a segunda maior queda do indicador este ano. Em março, houve redução de 2,1% nas horas trabalhadas em relação a fevereiro.
O emprego industrial em setembro caiu 0,3%, a maior queda mensal desde abril de 2009.Para a CNI, a massa salarial continua crescendo mais em função dos dissídios coletivos do que em função da abertura de novas vagas. Esse indicador cresceu 7,3% ante setembro do ano passado. O rendimento médio real avançou 6,2% no mesmo período.
"Há um movimento que sugere a redução de estoques", avaliou Castelo Branco. Segundo ele, o nível de estoque estava acima do desejado desde o segundo trimestre do ano.
Ele atribuiu a queda na produção industrial ao ciclo de aumento de juros no País até julho deste ano - que reduziu a demanda doméstica - e ao desaquecimento da economia global.
A elevação dos juros trouxe também a valorização do real frente ao dólar, o que retirou competitividade dos produtos nacionais. "A taxa de câmbio hoje é melhor do ponto de vista da competitividade do que no primeiro trimestre, mas o câmbio valorizado atinge o setor industrial", disse Castelo Branco. "Esse processo recente de desvalorização do real não foi suficiente para reverter a situação porque veio junto com crise global e aumento da oferta de manufaturados no mundo", acrescentou.
Folga. Para a CNI, a tendência é de aumento da ociosidade na indústria. "De um ano para cá, a ociosidade está aumentando", destacou o economista da entidade, Marcelo De Ávila. Com mais folga no parque industrial, os estímulos para novos investimentos ficam menores. "Não há demanda prospectiva", completou Castelo Branco, lembrando que a demanda externa também continua com perspectivas negativas.
Cresceu também o número de setores na indústria que mostraram queda na atividade industrial. "Não é só um ritmo de crescimento menor. Grande número de setores teve queda no faturamento e nas horas trabalhadas em relação a setembro de 2010", destacou. Os setores com maiores quedas na produção são vestuário, madeira, móveis e máquinas e equipamentos elétricos.
Veículo: O Estado de S.Paulo