Para o presidente do banco, o grande desafio da economia brasileira é de reduzir os juros para convergir com a taxa de juros de longo prazo
O "grande desafio" da economia brasileira é reduzir a taxa Selic para níveis compatíveis com o juro de 6% ao ano que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) usa como referência para financiamentos. A avaliação foi feita ontem pelo presidente da instituição, Luciano Coutinho, durante audiência no Senado.
"Existe a necessidade de reduzir os juros para fazer a Selic convergir com a TJLP", afirmou Coutinho. A taxa de juros de longo prazo (TJLP) é definida trimestralmente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "À medida que o governo tem um mix de política fiscal mais firme, para dar espaço para a política monetária, criamos perspectiva de convergência no médio prazo", disse Coutinho durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
Depois de elevar a Selic para 12,5% até julho, para desacelerar a economia e controlar a inflação, o Banco Central começou a cortar os juros em agosto. Os dois cortes de 0,5 ponto básico, que levaram a Selic para 11,5% no mês passado, são consistentes com a queda da inflação para a meta de 4,5% no fim do ano que vem, segundo o BC.
Na avaliação da autoridade monetária, compartilhada pelo presidente do BNDES, a crise financeira internacional provoca um movimento desinflacionário que permite ao BC cortar os juros. Analistas de mercado concordam com a previsão, mas preveem inflação acima do centro da meta em 2012.
Outro fator de conforto para a estratégia do BC de reduzir o custo do dinheiro, segundo Coutinho, seria diminuir o volume de financiamentos concedidos pelo BNDES. "Continuamos com a política de moderação", afirmou. "Podemos estudar uma mudança pontual no ano que vem, caso seja necessário por causa da crise, desde que não altere essa estratégia."
Investimentos. Vista pelo BC como um dos principais canais de transmissão da crise para o Brasil, a expectativa de investimentos do setor privado vem desacelerando, segundo o presidente do BNDES. Hoje, empresários sondados pelo banco apostam em um crescimento anual de 7,6% ante 9% anteriormente e estimam investimentos de R$ 1 trilhão nos próximos quatro anos.
Outro desafio para o País, na avaliação de Coutinho, seria fomentar a participação do sistema financeiro privado em financiamentos de longo prazo para infraestrutura. Isso ajudaria a elevar a taxa de investimentos em relação ao PIB de 19% atualmente para algo em torno de 23% ou 24%. "Quem financiará? Se for só o BNDES, precisaria dobrar de tamanho de novo."
Os senadores da CAE aprovaram ontem uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) no BNDES, para investigar a renegociação de dívidas municipais sem autorização da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e do Tesouro. Indagado sobre o tema, Coutinho afirmou que detinha as autorizações.
Veículo: O Estado de S.Paulo