Rua e shopping têm Natal magro

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Das ruas aos shoppings, o varejo brasileiro registrou um Natal menos vibrante este ano. Os doze meses de 2011 fecham na mesma toada de desaceleração, com crescimento às vezes abaixo da inflação. Quanto aos prognósticos para 2012, os empresários preferem confiar que o governo será sensível ao cenário de crise no mercado externo e seguir cortando juros, única maneira de manter vendas em alta, ainda que seja de um dígito.

"Estamos fechando o planejamento para 2012 e minha meta é crescer 5% nas mesmas lojas no ano que vem", diz Ricardo Nunes, sócio da Máquina de Vendas, segunda maior varejista de eletroeletrônicos do Brasil, que reúne as bandeiras Ricardo Eletro, Insinuante, City Lar e Eletro Shopping. "Se conseguir 5%, estará bom demais", afirma Nunes, que espera que o governo baixe o juro e libere o crédito, o contrário do que fez na maior parte deste ano.

O índice de crescimento real de 5% nas mesmas lojas da Máquina de Vendas é igual ao deste ano - considerando os 720 pontos das redes Ricardo Eletro, Insinuante e City Lar de 2010 e 2011, com exceção das cerca de 30 lojas abertas este ano e da recente fusão com a Eletro Shopping, que agregou mais 150 pontos. Em 2010, o crescimento nas mesmas lojas havia sido de 7%. "O ano poderia ter sido melhor, se não fosse a paradeira em julho, agosto e setembro", diz Nunes, que não confirma a previsão de R$ 7,2 bilhões de faturamento do grupo este ano. O número pode ficar um pouco abaixo, diz ele.

Quanto ao Natal, Nunes afirma que as vendas do grupo cresceram 17%, contando as quatro bandeiras e a operação on-line. Para isso, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na linha branca, anunciada no início deste mês pelo governo, foi decisiva. "O IPI ajudou muito", diz ele, que também destaca a venda de notebooks e smartphones em dezembro. O tíquete-médio do período, porém, permaneceu praticamente igual: R$ 292, contra R$ 293 de 2010.

No Armarinhos Fernando, uma das redes mais tradicionais da 25 de Março, maior polo de comércio popular da capital paulista, o Natal esteve longe de bater metas. "Crescemos 8% em dezembro", diz o gerente da rede, Ondamar Ferreira, que esperava vendas até 9% maiores. O tíquete médio foi de R$ 90, contra R$ 83 do Natal de 2010. A rede, dona de 15 lojas de rua na capital, não abriu nenhum ponto este ano e deve encerrar 2011 com crescimento nominal de 4,5%, a metade dos 9% previstos. "Vamos crescer menos que a inflação", diz Ferreira. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, deve ficar em torno de 6,5% este ano.

A rede de docerias Ofner, dona de 12 lojas em shopping e oito em rua, prevê crescimento real de 4,5% nas vendas de 2011. "Nossa expectativa era de 6%", diz Laury Roman, diretor comercial da Ofner. O executivo considera incerto o cenário do ano que vem. "O primeiro trimestre de 2012 não deve ser tão bom quanto foi o de 2011", afirma. Ainda assim, a Ofner planeja uma Páscoa com 4% de aumento em volume. "Nossa produção começa no dia 2", diz.

Nos shopping centers, as vendas devem encerrar este ano com alta de 12%, atingindo R$ 104,1 bilhões. O índice é inferior aos 16,3% de crescimento nominal de 2010, segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).

Influenciada pelo cenário externo, a desaceleração foi sentida neste Natal: a expectativa da Alshop era crescer 6,5% neste fim de ano, mas a alta foi de 5,5%. "Esse cenário já havia sido observado em outubro e nas primeiras semanas de novembro, quando notícias negativas do exterior fizeram o consumidor frear as compras", diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.

A entidade ainda não traçou uma expectativa oficial para 2012, mas considera a possibilidade de crescer entre 10% e 12%. Ou seja, tentar, no máximo, repetir o índice de 2011. "A política do governo em relação às taxas de juros, que estão entre as mais altas do mundo, pode dizer qual será o nosso crescimento em 2012", diz Sahyoun.

Tradicionalmente, o primeiro trimestre é mais fraco para o comércio, por conta dos compromissos das famílias nesse período, como compra de material escolar e pagamento de impostos. A redução do IPI na linha branca, que "chegou muito tarde", pode não ser suficiente para enfrentar o trimestre, diz Sahyoun. "O governo precisa entrar com outros incentivos no próximo ano". Para garantir resultados mais animadores, o varejo já ensaia promoções: o Extra promove saldão de descontos até o dia 31 e a Etna, de móveis e decoração, inicia promoção no dia 2.


Veículo: Valor Econômico


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