O primeiro semestre de 2008 registrou um aumento no volume de vendas do comércio varejista de 10,6% sobre o mesmo período do ano passado. Esta expansão é a maior já registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde que passou a levantar o indicador em 2001. O recorde, informa Reinaldo Silva Pereira, gerente da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, reflete, em certa medida, o aumento do Rendimento Médio Real da População Ocupada, que em junho de 2007, segundo o próprio IBGE, estava em R$ 1.196 e alcançou os R$ 1.216 em junho deste ano.
É resultado, ainda, do aumento da ocupação - que evoluiu de 51,3% em junho de 2007 para 52,6% em junho passado -, o crescimento da massa salarial do trabalhador, assim como uma oferta de crédito em patamares altos e o alongamento dos períodos de pagamentos e prestações, as quais ainda não acusam o impacto causado pelo aumento da Selic nas taxas de juros.
"O fato de o indivíduo se sentir estável no emprego e dispor de oferta de crédito facilita muito a sua ida às compras e o seu consumo", comentou Pereira. No mês de junho, em relação a maio, o volume de vendas do varejo cresceu 1,3% e a receita nominal 2,5%.
Segundo o IBGE, na análise da variação do volume de vendas do varejo entre junho e maio, das dez atividades medidas, apenas uma apresentou resultado negativo: a categoria "outros artigos de uso pessoal e doméstico" recuou 0,8%. No sentido contrário, a que apresentou maior expansão, de 2,1%, foi a de combustíveis e lubrificantes - a qual já acumula o sexto mês seguido de crescimento. "Veículos, motos, partes e peças" e "tecidos, vestuário e calçados" vêm em seguida, com um crescimento de 1,7% nos dois casos. Vale mencionar que "hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo", em relação a maio, apresentou uma pequena expansão, de 0,4%. Na prática, explica Pereira, trata-se do quarto mês consecutivo de alta dessa atividade que, no entanto, vem apresentando taxas decrescentes, indicando uma perda de fôlego do segmento.
Algumas tendências ficam mais evidentes quando os dados de junho de 2008 são comparados aos de junho de 2007. Nesse caso, a receita nominal no comércio cresceu 15,2%. No entanto, no mesmo período o volume de vendas cresceu relativamente menos, ou 8,2%. De acordo com Pereira, a diferença entre receita e volume é o que sua equipe chama de "inflação implícita setorial" do comércio. Ou seja, os preços sobem, portanto a receita sobe, mas o volume não sobe na mesma velocidade. "Se não fosse a inflação, o índice de 8,2% no volume de vendas, com certeza, seria maior", acredita o especialista. Ainda assim, frisa Pereira, esta variação do volume de vendas no varejo em junho de 2008 frente ao mesmo mês um ano antes, de 8,2%, é o segundo resultado mais alto da série histórica do IBGE. Perde apenas para junho de 2004, num ano de recuperação da economia, quando a variação do mês chegou a 12,9%.
Inflação de alimentos
De acordo com o analista, de todas as categorias analisadas, a de "hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo" é a que mais explicita o impacto da inflação de alimentos sobre o varejo. Nesse segmento, ao se comparar junho de 2007 com junho de 2008, a receita nominal cresceu 15,6%; já o volume subiu meros 1,5%. Pereira explica que, a partir dos dados de junho, mês sem qualquer data comemorativa em especial, é possível dizer que o resultado de 1,5% no volume de vendas bem abaixo da média do varejo, de 8,2%, pode ser um indício concreto da inflação dos alimentos. Já entre as demais categorias analisadas, a que obteve o melhor resultado, acima da média do varejo, foi a de equipamentos e material de escritório, informática e comunicação, com 40,1% entre junho de 2007 e o mesmo mês deste ano.
Veículo: Gazeta Mercantil