Com a demora habitual, temos em mãos agora as estatísticas de novembro do ano passado sobre o comércio varejista. Embora atrasados, esses dados ilustram de maneira interessante como a aproximação das festas do fim do ano e o pagamento de uma parte do 13.º salário afetam o impulso consumista das famílias brasileiras.
Desde logo se observa que, em relação ao mês anterior, as vendas aumentaram 1,3% (ante zero em outubro) e a receita nominal cresceu na mesma proporção que o volume de vendas, o que indica que os preços não explodiram na véspera do Natal.
No acumulado de 2011, o aumento do volume de vendas foi de 6,7%, muito inferior ao da mesma época de 2010 (mais de 11%), o que mostra um recuo das vendas, que, no entanto, ainda foram robustas e não foram acompanhadas por uma elevação equivalente da produção industrial. Esta, nos 11 primeiros meses, cresceu apenas 3,6%, mantendo, pois, o descasamento entre produção e vendas, com as importações preenchendo a diferença.
A forte reação do varejo de outubro para novembro é explicada por dois fatores principais: a antecipação das compras natalícias, para escapar do lufa-lufa de última hora, e o pagamento parcial do 13.º salário, que ofereceu facilidades para as antecipações de compras.
Os dados divulgados pelo IBGE ilustram bem o caráter dessas compras. De fato, com exceção das vendas de tecidos e outros bens de vestuário, que apresentaram ligeira redução (0,3%), todas as outras aumentaram. Aquelas vendas são essencialmente relativas a bens de pouco valor unitário, comprados no último momento das festas. Assim, é interessante notar que os bens de alto valor, adquiridos a prestações, tiveram sua venda ampliada: em 6% nos equipamentos de informática e em 4,6% nos automóveis (setor incluído no comércio varejista ampliado).
No entanto, outros produtos responderam à atração das festas do fim do ano: os supermercados e lojas de alimentação, cujo volume de vendas aumentou 1,3%, bem mais do que o crescimento normal, em torno de 0,8%; os artigos de perfumaria e farmácia, com 1%; e os livros e papelaria, com 8,6%.
O Brasil, embora em meio a uma crise mundial que afeta os países ricos, continua a ser um paraíso do varejo. A impressão é de que é muito grande o número de compradores impulsivos entre nós que, com dinheiro na mão, correm sôfregos para as lojas, o que dificulta analisar o rumo que a economia pode adotar.
Veículo: O Estado de S.Paulo