A ascensão da classe C e a expansão do crédito na última década causaram profundas transformações no orçamento do brasileiro, que gasta mais com carros e menos com alimentos. É o que mostrou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao divulgar novos pesos dos produtos e serviços na família dos Índices de Preços ao Consumidor (IPCs), que medem inflação no varejo e representam 30% dos Índices Gerais de Preços (IGPs).
A nova ponderação entrará em vigor em fevereiro e levará em conta o novo perfil do consumidor apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Até então, a FGV usava os pesos de produtos e serviços apurados pelo IBGE da POF anterior, de 2002-2003.
Um dos destaques entre as mudanças, os alimentos, que chegaram a representar quase um terço da inflação do varejo (27,49%), agora serão um pouco menos de um quarto do total (22,37%). "Com o aumento de renda do trabalhador, na última década, o consumidor mais pobre desloca gastos para outros tipos de consumo e não se concentra mais, principalmente, em alimentos", explicou o economista da FGV, André Braz.
Entre outros tipos de consumo estão a compra de carros. Somente a participação de veículos automotores na inflação do varejo subirá mais de seis vezes, de 0,61% para 6,7%. Isso porque, além de crescimento na renda, o consumidor também foi favorecido por maior e melhor oferta de crédito nos últimos dez anos.
A maior disponibilidade de financiamentos também puxará para cima a fatia, no cálculo da inflação, da evolução de preços de outros bens duráveis, como eletrodomésticos (de 0,74% para 1,44%) e equipamentos eletrônicos (de 1,38% para 2,29%).
Em compensação, diminuirá quase pela metade a participação de educação no cálculo da inflação varejista (de 5,7% para 3,8%). Braz lembrou que, na última década, houve diminuição no número de filhos por família. Isso, na prática, ajudou a reduzir gastos familiares com estudos.
A maior folga no bolso do brasileiro permitiu aumento no nível de gastos com supérfluos. Com isso, a participação de produtos e serviços de recreação na inflação do varejo subirá de 2,5% para 3,1%. O consumidor brasileiro também passou a gastar mais com roupas, o que puxará para cima a fatia de Vestuário nos IPCs (de 5,4% para 5,89%).
Veículo: O Estado de S.Paulo