Consumo voltou a puxar economia, dizem analistas

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A expectativa para a indústria é que 2012 seja melhor do que foi o ano passado, quando o setor amargou crescimento de apenas 0,3%. Ainda assim, é novamente o consumo que vai levar a atividade econômica a ganhar ritmo em 2012, segundo economistas consultados pelo Valor. Esse efeito, dizem, já poderá ser percebido no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2011 e mais ainda ao longo deste ano.

Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, um impulso relevante ao consumo virá de três frentes. O mais importante é o aumento real de 7,5% do salário mínimo, mas a desoneração de produtos da linha branca, que deve vigorar até o fim de março, combinada à redução da Selic pelo Banco Central dá "condições positivas para o consumo no primeiro trimestre", afirmou Bicalho. O economista ressalta ainda o recuo mais rápido dos juros de mercado, com efeito importante sobre os índices de confiança, que deram sinais de retomada neste início de ano.

Essa combinação deve trazer a inadimplência, que alcançou 7,3% em dezembro do ano passado, para baixo, abrindo caminho para que o consumidor continue a ser o motor da economia.

A expectativa dos analistas consultados pelo Valor é que o PIB pela ótica da demanda já seja mais positivo no quarto trimestre do que foi no terceiro trimestre do ano passado, quando a economia ficou estagnada. Naquele período, o setor externo deu a principal contribuição para que a atividade não fosse negativa. Na comparação com o segundo trimestre, na série com ajuste sazonal, o consumo das famílias, do governo e os investimentos recuaram 0,1%, 0,7% e 0,2%, respectivamente.

O consumo das famílias deve ser ponto importante dessa inversão. O economista-chefe do HSBC, André Loes, estima que a redução da inadimplência aliada às medidas de estímulo do governo, como o desmanche de parte das medidas macroprudenciais pelo BC, terá efeito considerável sobre o consumo, com expectativa de alta de 0,5% no último trimestre do ano passado, na comparação com o período imediatamente anterior, sempre com ajuste sazonal. Em 2012, diz Loes, esse efeito será potencializado, o que explica em parte sua projeção mais otimista do que a média do mercado para o crescimento deste ano, de 3,7%.

Para o Santander, o consumo das famílias deve ter crescido 0,8% no quarto trimestre de 2011. Fernanda Consorte, economista do banco, projeta que a alta do rendimento médio real nos últimos dois meses do ano passado deve ter turbinado esse resultado. Fernanda ainda projeta que o consumo do governo e o setor externo devem ter dado contribuições positivas, com expectativa de que o PIB no período tenha avançado 0,4%. A exceção, pelo lado da demanda, será o investimento, que deve continuar negativo, segundo a economista do Santander. Para ela, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, a medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e na construção civil) deve até piorar na passagem trimestral, passando de queda de 0,2% para menos 0,4%.

Bicalho, do Itaú, também ressalta que o investimento não deve ter reagido no quarto trimestre do ano passado e um dos indícios é a atividade industrial, que teve queda mais forte em outubro, na comparação com setembro. O segmento de bens de capital, por exemplo, registrou baixa de 1,8% na produção naquele mês. Assim, apesar do resultado positivo nos dois meses subsequentes, o PIB industrial no trimestre deve ter sido negativo, segundo o Itaú, e a estimativa é que o país tenha crescido apenas 0,2% no último trimestre de 2011, mesma taxa esperada pelo HSBC.

Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, tem expectativa um pouco menos otimista para o comportamento da demanda. Apesar de também esperar um crescimento do PIB próximo a 0,4% no quarto trimestre, sempre na comparação com o terceiro trimestre, na série com ajuste sazonal, o economista avalia que o consumo será "levemente positivo", mas pouco surpreendente. O endividamento das famílias, afirma, deve ter impedido atividade mais robusta, apesar da injeção de renda com o pagamento do 13º salário e a redução da inflação acumulada em 12 meses.

A partir do primeiro trimestre deste ano, no entanto, as medidas de estímulo devem ganhar potência e a atividade começará a reacelerar, estimam os economistas. O crescimento entre janeiro e março deve ser de 0,8%, na comparação com o último trimestre de 2011 para o Itaú Unibanco e para o Santander. Para Aurélio Bicalho, mais uma vez o consumo deve crescer acima da variação do PIB, enquanto a indústria seguirá com avanço inferior à taxa de expansão da economia brasileira.

Para Bicalho, a indústria entrou em 2012 em primeira marcha por causa dos estoques ainda em patamares elevados. "Vamos ver o mesmo padrão observado nos últimos dois anos, em que um pedaço importante da demanda é atendida pelas importações", segundo Luis Otávio Leal, do ABC Brasil.


Veículo: Valor Econômico


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