A antecipação de coleções e, principalmente, de liquidações ganhou mais um ingrediente de incentivo neste ano. E ele não é nada positivo. A demanda fraca de junho está obrigando muitos lojistas a liquidarem as coleções de inverno poucos dias após o início da estação. A constatação da desaceleração no movimento neste mês foi feita ontem na reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O Comitê, formado por empresários, economistas e especialistas nos mais diversos ramos de atividade econômica, detectou que o desempenho fraco – que já atingia a indústria desde o início do ano – chegou ao comércio.
"O clima é pessimista no setor de vestuário. Maio foi um mês bom, com vendas de inverno antecipadas e o Dia das Mães, mas junho surpreendeu negativamente e muitos amargam quedas nos negócios. E, se o varejo está estocado, precisa antecipar liquidações", afirmou um executivo do setor, membro do Comitê.
Assim como no ramo têxtil e de vestuário, integrantes dos segmentos de material esportivo, colchões, móveis e até de embalagens, entre outros, relataram igual preocupação com a redução do movimento e estoques altos.
Inadimplência – Na opinião dos membros do Comitê, a inadimplência, apesar de estar em elevação, não corre risco de sair do controle. Isso enquanto se mantiverem os dados positivos de emprego e renda. Mas é o endividamento cada vez mais alto das famílias um dos principais responsáveis pela retração do consumo.
"O brasileiro não está mais comprando tanto porque já está endividado e vem tentando colocar suas contas em dia", disse a fonte do varejo de vestuário. De acordo com estatísticas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias com dívidas atingiu 57,3% neste mês.
Até mesmo no ramo imobiliário, que apresentou índices de crescimento surpreendentes nos últimos anos, é perceptível uma desaceleração. "O segmento está bem, com números positivos, mas a velocidade das vendas está mais lenta. Hoje, termina-se a construção de um edifício com cerca de 8% a 10% das unidades ainda à venda, o que não ocorria em 2010", afirmou um empresário do setor. Se os negócios estão saindo com mais dificuldade, a velocidade de lançamentos também diminuiu e os preços estão relativamente estáveis.
Patinando – A atividade tímida generalizada ainda levou à análise unânime do Comitê de Conjuntura de que a economia brasileira neste ano continuará patinando. Até porque, para que houvesse a expansão prometida pelo governo no segundo semestre, ela já deveria ter começado a dar sinais.
"Teremos mais um ano medíocre em crescimento. Muito dificilmente o PIB (Produto Interno Bruto) terá alta maior que 2,5%. E se o País não cresce, acaba desinteressando os investidores estrangeiros", alertou um economista. Para ele, as promessas de crescimento não cumpridas aliadas às intervenções do governo na economia são muito mal vistas no exterior e prejudicarão investimentos.
Veículo: Diário do Comércio - SP