Ações do governo para alavancar vendas e ajudar a produção nacional têm reflexo na compra de artigos estrangeiros
As ações do governo federal de estímulo ao crédito têm incentivado mais as compras de importados do que a produção da indústria nacional, segundo análise feita pelo diretor do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com informações do IBGE, nos últimos dois anos as vendas no comércio varejista aumentaram 17,5%, enquanto que a produção industrial caiu 3,2%. A diferença entre a alta do consumo e a queda da produção é ocupada pelos importados. No período, a importação de bens de consumo cresceu 52%.
Segundo a tese apresentada pelo BC em seu mais recente relatório de inflação, as “elevações da demanda interna devem ser atendidas pela importação de bens” e chama a atenção da Fazenda para a ineficácia das medidas recentes de incentivo ao consumo. Para o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, o relatório também anuncia o esgotamento das alternativas da equipe econômica — chefiada pelo atual ministro Guido Mantega — para fomentar a produção industrial no curto prazo. Moreira avalia que a Fazenda está deixando passar o momento de trabalhar o ano de 2013 ao tentar salvar o de 2012. “Isso deixa evidente que o problema não é a demanda, mas a oferta cara de produtos brasileiros.
Ogoverno deveria estar trabalhando para que em 2013 e 2014 a produção industrial possa crescer, porque o ano de 2012 já está perdido”, declara. “Antes (as medidas de incentivo ao consumo) funcionarambem, mas esta não é uma receita que pode ser repetida indefinidamente. O governo será obrigado a olhar para o longo prazo”, complementa o ex-ministro.
André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, considera ainda que o avanço dos importados acontece porque a absorção doméstica brasileira ainda é forte, mas, como o resto do mundo está “parado”, os comerciantes voltam seus olhos para o Brasil. Ele explica que os produtos entram no país cada vez mais baratos, em uma estratégia agressiva dos estrangeiros de conquistar parte do mercado tupiniquim. “Há uma necessidade mundial emvender e todos terão que vender para mercados com demanda, caso do Brasil”, diz Perfeito. Procurado, o Ministério da Fazenda não se pronunciou.
Alternativa
A saída é conhecida, diz Perfeito. É necessário estimular os investimentos para alavancar o Produto Interno Bruto (PIB). Porém, nesta seara, o Brasil também está parado, alerta o economista. “Minha projeção é de que a expansão da Formação Bruta de Capital Fixo — um dos componentes do PIB — ficará abaixo de 1% este ano”, afirma.
Em 2011, o indicador que mede o crescimento dos investimentos apontou expansão de 4,7%, insuficiente para sustentar uma alta expressiva do PIB. Marcel Solimeo, superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), diz que os empresários não investirão enquanto o governo não der indicações de que criaráumambiente favorável no longo prazo. “Enquanto o Mantega se ater ao curto prazo, os empresários tentarão suprir a demanda com a capacidade que possuem atualmente. Hoje, não é justificável investir no país.”
Veículo: Brasil Econômico