Para BC, estímulos ao crédito beneficiam os importados

Leia em 2min 40s

Ações do governo para alavancar vendas e ajudar a produção nacional têm reflexo na compra de artigos estrangeiros



As ações do governo federal de estímulo ao crédito têm incentivado mais as compras de importados do que a produção da indústria nacional, segundo análise feita pelo diretor do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com informações do IBGE, nos últimos dois anos as vendas no comércio varejista aumentaram 17,5%, enquanto que a produção industrial caiu 3,2%. A diferença entre a alta do consumo e a queda da produção é ocupada pelos importados. No período, a importação de bens de consumo cresceu 52%.

Segundo a tese apresentada pelo BC em seu mais recente relatório de inflação, as “elevações da demanda interna devem ser atendidas pela importação de bens” e chama a atenção da Fazenda para a ineficácia das medidas recentes de incentivo ao consumo. Para o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, o relatório também anuncia o esgotamento das alternativas da equipe econômica — chefiada pelo atual ministro Guido Mantega — para fomentar a produção industrial no curto prazo. Moreira avalia que a Fazenda está deixando passar o momento de trabalhar o ano de 2013 ao tentar salvar o de 2012. “Isso deixa evidente que o problema não é a demanda, mas a oferta cara de produtos brasileiros.

Ogoverno deveria estar trabalhando para que em 2013 e 2014 a produção industrial possa crescer, porque o ano de 2012 já está perdido”, declara. “Antes (as medidas de incentivo ao consumo) funcionarambem, mas esta não é uma receita que pode ser repetida indefinidamente. O governo será obrigado a olhar para o longo prazo”, complementa o ex-ministro.

André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, considera ainda que o avanço dos importados acontece porque a absorção doméstica brasileira ainda é forte, mas, como o resto do mundo está “parado”, os comerciantes voltam seus olhos para o Brasil. Ele explica que os produtos entram no país cada vez mais baratos, em uma estratégia agressiva dos estrangeiros de conquistar parte do mercado tupiniquim. “Há uma necessidade mundial emvender e todos terão que vender para mercados com demanda, caso do Brasil”, diz Perfeito. Procurado, o Ministério da Fazenda não se pronunciou.

Alternativa

A saída é conhecida, diz Perfeito. É necessário estimular os investimentos para alavancar o Produto Interno Bruto (PIB). Porém, nesta seara, o Brasil também está parado, alerta o economista. “Minha projeção é de que a expansão da Formação Bruta de Capital Fixo — um dos componentes do PIB — ficará abaixo de 1% este ano”, afirma.

Em 2011, o indicador que mede o crescimento dos investimentos apontou expansão de 4,7%, insuficiente para sustentar uma alta expressiva do PIB. Marcel Solimeo, superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), diz que os empresários não investirão enquanto o governo não der indicações de que criaráumambiente favorável no longo prazo. “Enquanto o Mantega se ater ao curto prazo, os empresários tentarão suprir a demanda com a capacidade que possuem atualmente. Hoje, não é justificável investir no país.”



Veículo: Brasil Econômico


Veja também

Estoque prejudica indústria

Tem sido frustrante para a maioria do setor produtivo o efeito das medidas de estímulo ao consumo e à ativ...

Veja mais
Brasil é o Brics que cobra mais impostos

Carga tributária do País chega a 34% do PIB e só é superada por europeusO Brasil cobra mais ...

Veja mais
Estudo mostra que só produto importado ganha mercado em 2012

Depois de atender a todo o crescimento do consumo doméstico de bens industriais em 2011 - em uma parcela crescent...

Veja mais
Setor que mira o mercado interno ganha relevância

Produção de alimentos passa petróleo e se torna a mais importante em 2010Mesmo num cenário d...

Veja mais
Um dia depois de pacote, BC reduz projeção de aumento do PIB a 2,5%

Apesar da revisão, equipe do ministro da Fazenda reafirma que espera um crescimento maiorMesmo com reduç&a...

Veja mais
Consumo das famílias ajudou comércio a avançar, aponta IBGE

A recuperação econômica da crise enfrentada em 2008, impulsionada pelo consumo das famílias, ...

Veja mais
Onda de desânimo chega ao varejo

A antecipação de coleções e, principalmente, de liquidações ganhou mais um ing...

Veja mais
Inadimplência das empresas sobe 17,5% no ano

Aumento é atribuído a dificuldades econômicas, redução do crédito externo, endi...

Veja mais
Governo lança pacote, mas mercado prevê pouco impacto na economia

Além de cortar a taxa de juros para investimentos, governo amplia para R$ 8,4 bilhões as compras de equipa...

Veja mais