Setores com IPI menor estão otimistas

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O otimismo com o segundo semestre só aparece claramente entre os setores industriais beneficiados com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), como o setor moveleiro e o de linha branca. Mesmo assim, a indefinição sobre a manutenção do benefício traz apreensão sobre o que vai acontecer quando o imposto voltar a subir.

O setor de móveis, além da redução do IPI, também foi beneficiado pela desoneração da folha de pagamentos e da inclusão de móveis escolares entre as compras governamentais que serão antecipadas. "Estamos vendendo otimismo. O estoque está dentro da média, não há desabastecimento de matérias-primas no mercado e o custo da produção está menor", disse Lipel Custódio, diretor da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel).

Ele também destacou a previsão de compra de 400 mil carteiras escolares anunciada pelo governo e a abertura de uma linha de crédito de R$ 2 bilhões, pela Caixa Econômica Federal, para que os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida financiem móveis. O nível de uso da capacidade instalada está em cerca de 78,5% - o normal para o setor fica entre 75% e 76%. Custódio espera redução ainda maior de custos para o setor com o corte do IPI para alguns insumos da cadeia moveleira, como painéis de madeira e laminados de plástico, já sinalizados pelo governo.

A indústria de linha branca conta com a redução do IPI desde dezembro do ano passado, o que permitiu ao setor sentir os resultados na produção. O presidente da Latina, Valdemir Dantas, disse que medida trouxe bons resultados para sua empresa, mas a insegurança sobre o prazo de vigência da alíquota reduzida atrapalha o planejamento.

"Essa política de vaivém é péssima. A falta de definição sobre a redução do IPI em caráter permanente gera estresse no mês que antecede o fim do IPI reduzido e atrapalha a programação das empresas", diz o presidente da empresa. No primeiro semestre, as vendas da Latina, que tem sede em São Carlos (SP), cresceram 5,2% em volume e 4,9% em valor.

Dantas lembra, no entanto, que a expansão ocorreu sobre base fraca. O empresário disse que o varejo voltou com encomendas fortes em julho.

Na Mabe, os produtos com redução do imposto representam 95% do faturamento, o que contribuiu para a empresa ter crescimento de vendas acima do de mercado. Segundo o diretor de vendas, Eduardo Cortez de Oliveira, o volume comercializado da companhia teve alta de 14% no primeiro semestre, na comparação com igual período do ano passado. Grupo de origem mexicana, com cinco unidades no interior de SP, a Mabe fabrica eletrodomésticos e itens de linha branca - com marca própria e também para GE, Continental e Dako.

Oliveira lembra que, em junho, houve queda de encomendas do varejo. Isso aconteceu, explica, em razão da incerteza em relação à prorrogação do benefício do IPI. Depois de confirmada a manutenção da redução de alíquota até agosto, a situação mudou. Tudo indica, segundo o diretor da Mabe, que, nos próximos dois meses, haverá pedidos acima do normal, porque os varejistas tentarão antecipar, ao menos em parte, as compras para o fim do ano.

"Há uma incerteza, porém, em relação ao tamanho do mercado quando o incentivo acabar, em setembro", diz Oliveira. A redução do IPI, diz, fez muita diferença.

Alguns fabricantes têm esperança que o benefício fiscal se mantenha. "Há um pleito do segmento para manter o IPI mais baixo, porque o imposto é seletivo e as lavadoras e fogões são bens essenciais hoje", afirma Marcio Luiz Gonçalves, diretor de vendas da divisão da Mueller que fabrica lavadoras de roupas e tanquinhos.

As vendas de lavadoras e fogões da empresa cresceram 20% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Gonçalves prevê crescimento semelhante no segundo semestre.

Leandro Xavier Costa, vice-presidente-executivo da Suggar, também se mostra otimista. As vendas de tanquinho, que representam 50% do faturamento da empresa, tiveram forte
elevação. Em janeiro e fevereiro, conta, meses sazonalmente de baixa, diz, as vendas chegaram a ser maiores que em novembro, período tradicionalmente mais forte do ano. No segundo semestre, Costa acredita que o ritmo de vendas deve continuar e 2012 terminará com alta de 40% em relação a 2011.

Giovanni M. Cardoso, diretor comercial da fabricante de eletroportáteis Mondial, também está otimista, apesar de a empresa não trabalhar com nenhum produto incentivado com IPI reduzido - empresa vende liquidificadores, batedeiras, espremedores, entre outros itens.

Segundo o executivo, as vendas da empresa no segundo trimestre foram maiores do que as do primeiro trimestre.

De abril a junho, diz o diretora da Mondial, a elevação de vendas foi superior a 20% em relação a igual período do ano passado. A empresa, conta ele, está trabalhando com capacidade plena e as encomendas para o próximo trimestre estão "melhores do que o
esperado".


Veículo: Valor Econômico


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