Mantega defende câmbio desvalorizado e dólar sobe pelo segundo dia seguido

Leia em 3min

Ministro volta a criticar os banqueiros ao cobrar mais crédito e spread menor; ao setor industrial pede a ampliação dos investimentos


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou ontem a mensagem do governo de que vai intervir no mercado para evitar que o dólar caia abaixo de R$ 2. Na terça-feira, o diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, deu entrevista à 'Agência Estado', anunciando que o BC estava pronto a intervir no mercado. Mendes acenou que R$ 2 seria o piso para a cotação do dólar para evitar que os produtos brasileiros fiquem mais caros no mercado internacional e a indústria perca competitividade.

Ao comentar a entrevista, Mantega disse ontem que o governo adotou nos últimos meses medidas para desvalorizar o real em 20%. "Fazemos a política correta, estamos com o câmbio com uma posição que valorize a economia brasileira", disse.

A reação do mercado foi imediata. Pelo segundo dia seguido, o dólar fechou em alta, desta vez com valorização de 0,79% no mercado à vista, cotado a R$ 2,0310. É o maior nível desde 28 de junho.

Spread. O ministro adotou novamente a postura de colocar contra a parede os banqueiros, cobrando o aumento do crédito e a redução dos spreads bancários (diferença entre as taxas de juros pagas pelos bancos na captação de recursos e a cobrada dos clientes nas operações de empréstimos).

Mantega também não poupou de cobranças os industriais. "É preciso que o setor empresarial desperte seu espírito animal e faça os investimentos, pois quem sai na frente tem vantagens", disse. "É preciso que haja mais crédito dos bancos, com o spread caindo", completou, durante o Seminário Econômico Fiesp-Lide, em São Paulo.

No evento, Mantega rebateu críticas feitas pelo presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, que representava os banqueiros, e do presidente da Nestlé, Ivan Zurita, um dos porta-vozes do setor produtivo. Setubal atribuiu a redução do crédito ao aumento da inadimplência e à falta de um mecanismo de recuperação de perdas. Ele disse que só o Itaú Unibanco terá de arcar com uma perda de R$ 18 bilhões por conta de calotes neste ano.

O ministro, por sua vez, disse reconhecer o aumento da inadimplência, mas lembrou que é da natureza dos bancos serem pro-cíclicos (aumentarem o crédito em momentos de prosperidade) quando deveriam ser anticíclicos.

"Não é sair dando crédito adoidado, mas se reduzir o spread a inadimplência vai cair. Quero dizer, doutor Setubal, que o spread bancário no Brasil é muito alto", cutucou Mantega.

Após o presidente da Nestlé criticar a alta carga tributária e citar que 50% do preço de uma garrafa de água é resultante de tributos, Mantega disse que o setor de alimentos é o mais desonerado de todos, e que o governo se preocupa com o impacto da área na inflação. Em seguida, alfinetou Zurita: "A Nestlé tem no Brasil o segundo maior mercado mundial e significa que deve ter crescido lucrando bastante".

Logo na abertura do evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, cobrou de Mantega que o governo amplie, "em mais 60 dias", o prazo de recolhimento de impostos para "dar fôlego", no curto prazo, ao setor produtivo no momento de crise e de recuo no crédito. Para Mantega, uma coisa é propor uma agenda estratégica num cenário sem crise e a outra é propô-la em momentos de crise.

O ministro lembrou que a crise europeia começou diferente da crise de 2008 nos Estados Unidos, mas que seus efeitos deletérios sobre a economia estão ficando parecidos.



Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Custo de vida castiga mais pobres em SP, diz Dieese

A inflação para a população de menor poder aquisitivo foi mais expressiva do que a da m&eacu...

Veja mais
Comércio tem alta de 7,6% no primeiro semestre, diz Serasa

A atividade do comércio no país teve alta de 7,6% no primeiro semestre do ano na comparação ...

Veja mais
Analistas pedem mais investimento para o país

Nível de inadimplência e endividamento indicaria um esgotamento do poder de consumo das pessoasO consumo da...

Veja mais
Skaf pede ampliação no prazo de recolhimento de impostos

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, cobrou,...

Veja mais
Consumo perde força no primeiro semestre

O movimento do comércio varejista do país manteve-se aquecido no primeiro semestre deste ano, mas o ritmo ...

Veja mais
Venezuela no Mercosul deve beneficiar Norte e Nordeste

A recente entrada da Venezuela no Mercosul causa opiniões divergentes. Alguns especialistas em comércio ex...

Veja mais
Ritmo da indústria cai pelo 3º mês seguido

Setor de alimentação mostrou um dos mais altos índices de desaceleração: perda de 7,1...

Veja mais
Varejo: esperança ficou para 2º semestre.

Números fracos do primeiro semestre refletem a crise internacional, mas o mês de junho já sinaliza m...

Veja mais
Para BC, estímulos ao crédito beneficiam os importados

Ações do governo para alavancar vendas e ajudar a produção nacional têm reflexo na com...

Veja mais