Ritmo da indústria cai pelo 3º mês seguido

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Setor de alimentação mostrou um dos mais altos índices de desaceleração: perda de 7,1% em dois meses


A produção industrial brasileira caiu 0,9% em maio frente a abril, pior do que o esperado pelo mercado e a terceira queda mensal seguida, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com maio de 2011, a produção diminuiu 4,3% – a mais intensa queda desde setembro de 2009. De acordo com pesquisa junto a 17 analistas, a expectativa era de que a produção industrial recuaria 0,7% em maio ante abril.

"Os números de maio dizem que o perfil da indústria é de uma queda generalizada por conta de vários fatores", declarou o economista do IBGE André Macedo. "Há a entrada de importados, cenário de crise global e seus efeitos na economia, uma perspectiva negativa dos empresários, aumento da inadimplência e um comprometimento da renda das famílias", afirmou ele.

O IBGE informou que houve queda da produção industrial em 14 dos 27 segmentos pesquisados na comparação mensal em maio, com destaque para veículos automotores, com queda de 4,5%, interrompendo três meses de crescimento acumulado em 22,7%. "O setor de veículos ainda trabalha com estoques elevados, tanto que reduziu jornada, cortou horas extras e apresentou algumas paradas", disse Macedo, lembrando que o peso desse segmento é de 10% no indicador geral, com impactos importantes ligados a outras atividades, como tintas, borracha, plástico e metalurgia.

O segmento de alimentos também mostrou retração em maio, de 3,4%, acumulando perdas de 7,1% em dois meses seguidos de recuo na produção. O IBGE também destacou, como atividades que tiveram desempenho ruim no período, a de material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (queda de 10,9%), e calçados e artigos de couro (menos 5,3%).

Outro dado negativo em maio veio dos bens de capital, ligados ao nível de investimento no País. Entre abril e maio, essa produção caiu 1,8%, e em relação a um ano antes, a queda foi de 12,2%. Na ponta oposta, o IBGE destacou que houve avanço no segmento de produtos de metal, com alta de 13,2% no período, revertendo a perda de 6,1% acumulada em três meses de taxas negativas seguidas.

A atividade de Indústrias extrativas também mostrou crescimento, de 1,5%, enquanto que borracha e plástico apresentou expansão de 2,6%. Na comparação com maio de 2011, o IBGE destacou que 17 dos 27 segmentos mostraram recuo na atividade, com destaque para veículos automotores (16,8%), "pressionado pela queda na produção de aproximadamente 75% dos produtos investigados no setor".

O IBGE piorou ainda os resultados de abril. Na comparação com março, a queda passou de 0,2% para 0,4%, enquanto que na comparação com um ano antes, a retração passou de 2,9% para 3,5%.

Governo – O setor industrial é uma das principais preocupações do governo diante das dificuldades em apresentar sinais de recuperação, atrapalhando um desempenho mais favorável da economia. O Banco Central (BC) já reduziu sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano de 3,5% para 2,5%, devido à recuperação lenta da atividade e ao cenário internacional. E depois de o PIB ter crescido apenas 0,2% no primeiro trimestre do ano, comparado com os últimos três meses de 2011, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff abandonou a previsão inicial de expansão de 4,5% da economia neste ano.

Preocupado, o governo vem ampliando o arsenal de medidas de estímulo para aumentar o ritmo da atividade. O último pacote, anunciado na semana passada contemplou a prorrogação do prazo de vigência da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca e móveis, entre outros. O IBGE mostrou que, no segmento de linha branca, houve aumento de 8,5% entre maio e igual mês de 2011. No mesmo período, a produção no setor de mobiliário cresceu 22,3%.

"Os dados positivos são insuficientes para recuperar o setor industrial", afirmou Macedo, do IBGE.


Para Ipea, equipe age  para apagar 'incêndios'.

 
As medidas tomadas pela equipe do governo na tentativa de reaquecer a atividade econômica no País são pontuais e servem apenas para apagar incêndios, avaliou Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o economista, as políticas de curto prazo não resolvem o principal objetivo para um crescimento sustentado do Brasil, que é a retomada dos investimentos.

O Ipea apresentou ontem a 19ª edição do "Boletim Conjuntura em Foco", que traz análises sobre a competitividade industrial, investimentos produtivos e retomada do crescimento econômico.

"Estamos perdendo o foco da política econômica. A política econômica está se transformando em um emaranhado de medidas desconexas, pontuais, que não estão atuando no sentido de ganhar tempo para que se encontrem estratégias de longo prazo", disse Messenberg.

O pesquisador do Ipea acredita que as medidas de redistribuição de renda e estímulo ao consumo eram apenas paliativas, visando expandir a demanda interna em meio a um cenário internacional complicado. O caminho tomado pelo governo àquela época era justificado, porque era possível ganhar tempo para construir uma política de longo prazo para o crescimento do País.

"A gente estava caminhando nessa direção, tinha medidas paliativas para expandir a demanda diante do cenário internacional, mas que se justificava de forma a ganhar tempo. Agora tem um movimento inverso, se afastando da estratégia de longo prazo, porque ela entra em conflito com essas medidas pontuais de curto prazo, de apagar incêndios para manter um nível de atividade relativamente estabilizado", apontou.

Para Messenberg, o investimento público passou a ser a tábua de salvação para manter a saúde da atividade doméstica.



Veículo: Diário do Comércio - SP


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