Venezuela no Mercosul deve beneficiar Norte e Nordeste

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A recente entrada da Venezuela no Mercosul causa opiniões divergentes. Alguns especialistas em comércio exterior acreditam que o ingresso de mais um país no bloco deve aumentar as trocas entre o Brasil e seu vizinho latino-americano. Por outro lado, questões políticas que envolveram a adesão causam incertezas sobre a permanência deste cenário no mercado comum.

Para o presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil (Fecamvenez), José Francisco Marcondes, há uma previsão de que a entrada do país latino-americano no bloco faça com que o comércio com o Brasil dobre em um período de quatro anos, devido às vantagens alfandegárias proporcionadas pelo mercado comum.

Nos primeiros cinco meses deste ano a corrente de comércio entre os países ultrapassou os US$ 2 bilhões. O saldo comercial é superavitário para o Brasil em US$ 1,4 bilhão. Os principais produtos exportados para a Venezuela no período se concentraram no setor de proteína animal, já os produtos mais importados pelo Brasil neste ano estão ligados a derivados de petróleo

Outra questão colocada pelo especialista diz respeito ao deslocamento do eixo de comércio do Brasil, que antes estava muito ligado ao Cone Sul. Para ele, a entrada da Venezuela pode alavancar o comércio dos estados do Norte e Nordeste do País. "Alguns estados da Região Norte do Brasil compram hoje produtos do Sul e Sudeste pelo dobro do frete que seria cobrado dos produtos vindos da Venezuela. Essa vantagem deve ajudar no incremento de vendas para o Brasil", disse.

Entre as consequências do ingresso, o representante da Câmara acredita em um "crescimento mais equilibrado do comércio entre ambos países, com uma redução do superávit brasileiro que permita mais acesso aos produtos venezuelanos". Segundo ele, a Venezuela passa por um processo de industrialização e de redução da dependência do petróleo. Por isso o representante acredita que o Brasil pode ser um bom fornecedor de máquinas para a Venezuela e os países podem "atuar conjuntamente e atender terceiros em cooperação. A transferência de tecnologia é boa para ambos os lados", completou.

Para o embaixador José Botafogo Gonçalves, ainda há incertezas sobre as consequências do ingresso da Venezuela no bloco. Segundo ele o Mercosul foi criado com objetivo de zona de ser uma zona de livre-comércio, onde as mercadorias trocadas pelos membros não pagam direitos aduaneiros, e de união aduaneira em que mercadorias trazidas de fora da zona para dentro pagam uma tarifa única.

Para ele, ao longo dos anos essas duas características foram perdendo eficácia pelas restrições da Argentina "que são contrárias ao espírito do Mercosul". O Brasil, segundo o embaixador, também "está caminhando para o protecionismo, não é o livre-comércio como deveria ser", disse.

Um ponto de conflito que ajuda para a incerteza do cenário levantado por Botafogo é o fato de que "o governo da Venezuela, é contra o livre-comércio, contra a união aduaneira, ele quer transformar a América do Sul em um continente socialista. Em um Mercosul que já não está respeitando suas próprias regras, há um sócio que é contra a regra", completou o embaixador. Ele avalia que o apoio do Brasil para a entrada do país no bloco tem duas razões principais, a primeira é no âmbito estratégico pois a Venezuela é um país importante pelo seu potencial econômico, pela quantidade de petróleo disponível e geograficamente bem localizado. "É interessante atrair a Venezuela para o Mercosul , mas tem que saber o que a Venezuela está disposta a fazer", disse. O segundo fato é político, de aproximação com um país de esquerda no continente.

Uruguai

Outro fator que provoca a possível instabilidade da permanecia da Venezuela no Mercosul é que o ingresso foi decido sem a presença de um dos membros, o Paraguai, que estava fora da reunião por sanção política ao recente golpe de estado.

Ontem o vice-presidente do Uruguai , Danilo Astori, criticou o ingresso. Para ele, as decisões de suspender o Paraguai e aprovar a entrada da Venezuela significaram "ir ao coração do Tratado de Assunção e ignorar uma de suas normas mais importantes, que diz que a entrada de um membro pleno deve ser aprovada por todos os membros plenos já existentes", disse. O Tratado de Assunção regulamenta o bloco.

 

Veículo: DCI


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