Endividado, brasileiro corta gastos e começa a olhar taxa de juro

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Após o boom na oferta de crédito nos últimos anos, os consumidores brasileiros agora querem economizar. Uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group (BCG) em abril, com 1.440 pessoas no país, mostra que, por conta do alto endividamento, já está havendo uma diminuição no consumo e que 56% pretendem reduzir ainda mais seus gastos. Em São Paulo, 20% dos entrevistados informaram que 50% de sua renda já está sendo usada para pagamento de dívidas atreladas a cartão de crédito, cheques pré-datados e empréstimos.

O brasileiro tem dívidas para pagar compras de sapatos/roupas, carros, celulares/tablets, eletrodomésticos e produtos eletrônicos (ver tabela ao lado). A pesquisa da BCG foi feita pela internet com consumidores de todo o país, com renda mensal na casa dos R$ 1,1 mil e de diferentes faixas etárias.

Os entrevistados, segundo o levantamento, já estão reduzindo seu consumo em itens como água engarrafada, produtos lácteos, creme para o rosto, destilados, café e chá, entre outros. No segmento de duráveis foram citados, por exemplo, sapatos, calçados, carros e joias. Em prestação de serviços, houve uma redução de gastos com serviços de internet, telefone fixo, celular/tablet, imóveis e entretenimento.

O atual cenário econômico também está provocando modificações de outra ordem. Conhecido por parcelar as compras conforme o valor da prestação que cabe no bolso, o consumidor começa a prestar atenção na taxa de juros: 30% dos entrevistados querem pagar a vista suas compras para não ter que arcar com os juros.

Uma outra mudança que chama atenção é que agora a principal justificativa do brasileiro para uma aquisição não é mais "porque eu mereço" e sim porque o produto adquirido proporciona melhores resultados. "Hoje, a compra é mais técnica e não tão emocional como antes. Pela primeira vez nas pesquisas no Brasil, a principal justificativa para uma compra é a qualidade ou o que dá mais resultados", explica Olavo Cunha, sócio da consultoria Boston Consulting Group no Brasil. "Essa mudança súbita é por causa do
endividamento. Há uma preocupação maior com a qualidade dos gastos", complementou Cunha.

Segundo o executivo, essa alteração no consumo também é um indicativo de maturidade no consumo. Nos Estados Unidos, Japão e países europeu, apenas 21% a 24% dos entrevistados justificam suas compras como "porque eu mereço". Já no Brasil, Rússia, Índia e China esse percentual varia de 40% a 56%.

Nesse novo cenário, o consumidor está fazendo mais pesquisa e a principal ferramenta tem sido a internet. Dos 1.440 entrevistados, 84% responderam que pesquisam preços na web, 83% levam mais tempo fazendo compras, 81% negociam mais o preço ou compram menos roupa de marca. O levantamento do BCG mostra, por exemplo, que 44% dos entrevistados buscam na web informações sobre computadores, tablets e notebooks; 41% comparam preços; 29% adquirem esses equipamentos e 5% postam informações sobre sua aquisição em redes sociais.

A pesquisa mostra também em quais categorias os consumidores estão migrando para produtos mais caros ou mais baratos (movimentos classificados como "trading up" e "trading down").

Há, por exemplo, uma maior demanda por frutas e vegetais frescos em detrimento de comidas congeladas e industrializadas. "É uma demonstração de que o consumidor busca por mais qualidade", diz o sócio do BCG. Outra demanda é o investimento no lar, com decoração e equipamentos para uma melhor qualidade de vida. Ambas as demandas já eram apontadas na pesquisa do ano passado.

O levantamento feito no Brasil faz parte de um pesquisa mais ampla feita pela Boston Consulting Group. Foram ouvidos 15 mil consumidores, em 16 países.A maioria dos consumidores americanos e europeus afirmou que se sente insegura e ainda mais pessimista quanto à recuperação econômica. Em média, uma em cada quarto pessoas nos Estados Unidos e na Europa está preocupada com a possibilidade de perder o emprego e poucos acreditam que seus filhos terão uma vida melhor.

Já na China, o sentimento é o oposto. Os consumidores chineses e brasileiros lideram a lista dos mais otimistas quanto ao futuro econômico. O trabalho, batizado de Pesquisas sobre o sentimento do consumidor, está em sua 11ª edição.


Veículo: Valor Econômico


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